10 de dezembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Alagoas

Além da economia, recuo do consumo na capital pode refletir questões políticas

As famílias sentem os efeitos da inflação e aguardam a manutenção dos cargos comissionados

A insegurança no emprego somada ao custo de vida está impactando no consumo na capital alagoana. De acordo com a pesquisa sobre o Índice de Consumo das Famílias (ICF), para Maceió, outubro foi o quinto mês consecutivo de queda. Desde junho, o indicador já caiu -8,7% e, variação mensal, o recuo foi de -1,4%, conforme o levantamento do Instituto Fecomércio AL realizado em parceria com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

A persistência da queda do consumo nos últimos meses pode ser fruto tanto de questões econômicas, como de questões políticas, conforme observa o assessor econômico do Instituto Fecomércio, Francisco Rosário. “As famílias de Maceió sentem os efeitos da inflação nacional e do peso da alimentação, da moradia e do transporte no orçamento. Além disso, aparentemente, as famílias de maior renda e com empregos públicos comissionados esperam por novos arranjos políticos que lhes deem perspectiva de emprego e renda mais estáveis e compatíveis com suas aspirações de consumo”, explica ao falar que esses efeitos combinados devem refrear o consumo nos últimos meses do ano. Em relação aos cargos comissionados, o economista ressalta que este tipo de contratação teve uma alta no segundo trimestre desse ano e, como em geral são os que melhor pagam dentre os de carteira assinada, a perspectiva de novos arranjos políticos gera cautela nos gastos.

Diante deste cenário, o economista recomenda que os empresários do comércio continuem a dar atenção ao consumo das famílias de menor renda, pois, por ser a maioria, acaba definindo o padrão da capital. “Por outro lado, é necessário planejar mais promoções para sustentar as vendas nesse último trimestre do ano, já que a confiança do consumidor está abalada”, aconselha.

Subíndices e recorte por renda

A composição do ICF é formada por sete subindicadores e, na variação mensal apenas o subíndice Momento para duráveis (2,4%) teve desempenho positivo, refletindo a disponibilização do crédito e dos juros mais baixos para o consumo, particularmente para as famílias com renda acima de 10 salários mínimos. Os demais subíndices são: Emprego atual (-1,6%), Perspectiva profissional (-1,8%), Renda atual (-2,3%), Compra a prazo – acesso ao crédito (-0,5%), Nível de consumo atual (-3,7%) e Perspectiva de consumo (-1%).

No recorte por renda, as famílias que possuem maior poder aquisitivo, as chamadas de maior renda (<10 SM), mantiveram a constância no consumo e, considerando o acumulado de cinco meses, tiveram alta de 7,2% neste indicador. Paralelamente, as famílias de menor renda (>10 SM) reduziram as compras em -10% no mesmo período (junho a outubro).

Seguindo esta tendência por faixa, a perspectiva de consumo apresentou aumento de 6,3% entre os núcleos de maior renda e redução de -1,8% nos de renda mais baixa, ambos na variação mensal (setembro a outubro). “Essa tendência em Maceió é contrária à nacional, pois o mesmo indicador apontou que, no Brasil, as famílias de maior renda tiveram a maior redução na intenção do consumo”, compara o economista.

Mercado de trabalho

Os subíndices relacionados ao mercado de trabalho ajudam a compreender melhor o contexto do consumo e suas perspectivas futuras. Em outubro, a perspectiva profissional, que chegou a 174 pontos em junho, ficou em 161,9 pontos. Movimento similar na percepção do emprego atual, que saiu de 149 pontos para 138,3 pontos, no mesmo período, demonstrando relativa insegurança quanto aos empregos.

Para o economista, essa redução da confiança no mercado de trabalho está sendo impactada, principalmente, pelas famílias com renda mais alta. “Isso pode ser reflexo das possíveis alterações nas contratações de servidores públicos comissionados, em Maceió, além da percepção de que é difícil encontrar empregos com salários mais altos, haja vista que a maioria dos empregos gerados na cidade paga entre 1 a 1,5 salários mínimos”, avalia.