7 de fevereiro de 2025Informação, independência e credibilidade
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Alguma coisa está fora da ordem: Há muita gente com medo até de sorrir para quem merece

Imagine que há até senador propondo que militar jogue presos no penhasco.

Os sinais de que alguma coisa está fora da ordem nessa terra gigante chamada Brasil já vêm de longe. E até parece que esses mesmos sinais têm alimentado a ira de uma gente tresloucada e incapaz de olhar com empatia para quem pensa diferente ou gosta de uma outra cor.

Vai tempo e vem tempo, quem sabe, entre choques e arrepios, as pessoas perdem a noção de vida solidária e se colocam como senhores da vida e da morte, sobretudo, quando seus interesses são contrariados. É algo como se zumbis empavonados estivessem a cultuar, em uma bolha qualquer, seus novos cantos de terror, para demonstrar poder e estabelecer o medo como força de viver.

E isso me traz à mente a letra da canção do Caetano Veloso: “Aqui tudo parece que era ainda construção e já é ruína”.

É o que mais parece. A ruína do caráter, em nome do ultraje, do vilipêndio. Da tristeza infinita que toma conta de pais e mães que perdem seus filhos para a violência, seja ela das gangues sem fardas e das fardadas também.

Os episódios de violência policial em São Paulo e no Rio de Janeiro dizem bem sobre tudo isso. “Ah, é uma maçã podre”, diz uma autoridade tentando passar o pano para um problema de gravidade extrema. Mas não é assim. Há forma, método, estilo e rotina nesse comportamento, que alguém criou e estimulou a sua prática.

O que dizer de um militar – flagrado em vídeo – dando soco no rosto de uma idosa de 80 anos? O que dizer que um outro que disparou sete vezes seu revólver nas costas de um homem? Ou que dizer da “autoridade” que jogou um jovem de cima de uma ponte em baixo?

A idiotia, nas bolhas recheadas de zumbis caóticos, se espalha em meio ao enredo produzido por um senador da República, Jorge Seif (PL-SC), que recomendou que os policiais jogassem o jovem motoqueiro em um penhasco. De cima da ponte para um córrego, segundo ele, foi um prêmio. E assim essa gente ruim vai ao delírio.

Aliás, é o mesmo senador que no ano passado teve um caminhão, em nome da empresa da família, apreendido com 320 quilos de maconha, em uma cidade do Mato Grosso do Sul.

Mas, enfim, foi Caetano quem enxergou – muito antes – que “alguma coisa está fora da ordem”, a partir do instante em que essa gente sórdida começou a se expor como donos do mundo: “E o cano da pistola que as crianças mordem/ Reflete todas as cores da paisagem da cidade que é muito mais bonita/E muito mais intensa do que no cartão postal”, diz o poeta da Tropicália.

No entanto, a vida na cidade ainda está impregnada pelo medo. Medo até de sorrir para quem merece um sorriso farto.

Ou seria mesmo tudo um vapor barato?