20 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Amigo de Bolsonaro: Movimentação atípica foi com “revenda de carros”

Queiroz levou 20 dias para dizer que dará explicações ao MP, que foi ignorada por ele duas vezes

Em entrevista de 22 minutos ao SBT nesta quarta-feira (26), exatos 20 dias desde que a polêmica da “movimentação atípica” veio à público, o motorista Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), disse que parte do R$ 1,2 milhão que movimentou vem de negócios como compra e venda de carros.

Esta foi a primeira entrevista dele, que por duas vezes não atendeu chamados do Ministério Público para se explicar. Ele  falou também dos problemas de saúde que o levaram a adiar os depoimentos ao MP sobre as movimentações financeiras. Queiroz afirmou estar com um tumor maligno no intestino.

“Foi constatado um câncer”, disse. “Tem que operar o mais rápido possível.”Queiroz disse não estar fugindo do MP. “Quero prestar esclarecimento o mais rápido possível”, afirmou.

“Eu sou um cara de negócios. Eu faço dinheiro, compro, revendo, compro, revendo, compro carro, revendo carro… Sempre fui assim, gosto muito de comprar carro de seguradora, na minha época lá atrás, comprava um carrinho, mandava arrumar, revendia, tenho uma segurança”, Fabrício Queiroz, amigo de Bolsonaro.

Queiroz era funcionário do gabinete  na Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) de Flávio Bolsonaro, filho do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL). O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão do Ministério da Fazenda, identificou “movimentações atípicas” de R$ 1,2 milhão na conta bancária de Queiroz em um período de 13 meses.

Dinheiro para Primeira-Dama

Entre as movimentações identificadas está um depósito de Queiroz, no valor de R$ 24 mil, na conta da futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Bolsonaro disse que o depósito do ex-assessor do filho na conta de Michelle era pagamento de parte de uma dívida de R$ 40 mil com o próprio presidente eleito.

Queiroz teria utilizado a conta da futura primeira-dama para receber o dinheiro “por questão de mobilidade”. Bolsonaro também alegou que tem pouco tempo para ir ao banco em razão da rotina de trabalho. O ex-assessor endossou a versão dada pelo presidente eleito.”O nosso presidente já esclareceu. Tinha um empréstimo de R$ 40 mil, passei 10 cheques de R$ 4 mil. Nunca depositei 24 mil”, afirmou.

Nove assessores e ex-assessores de Flávio Bolsonaro repassaram dinheiro para o motorista, que recebeu menções e homenagens deputado estadual do Rio Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e seu irmão, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ). Queiroz disse ao SBT Brasil que vai explicar apenas ao MP (Ministério Público) porque recebeu depósitos de outros funcionários do gabinete do deputado estadual e senador eleito.

Ou seja, na entrevista de 22 minutos não deu maiores detalhes e disse que responderá apenas o MP, que ele já ignorou por duas vezes. Segundo o Coaf, a mulher de Queiroz e uma das filhas dele também depositaram recursos na conta do ex-assessor. Nathalia Melo de Queiroz, filha do ex-servidor, repassou a ele R$ 97.641,20, segundo o órgão fiscalizador.

Ela acumulou em 2011 emprego de recepcionista em uma rede de academias no Rio, cargo de assessora de Flávio e a faculdade de Educação Física. Queiroz deu sua versão para a ausência da filha no gabinete. “Além de o nosso gabinete ser muito frequentado, não tem espaço para todos os funcionários. Há flexibilidade, e se não me engano a minha filha sempre cuidou da mídia do deputado”, disse.

“Ela vai dar o esclarecimento dela.”Na entrevista, o ex-assessor não quis detalhar a origem dos depósitos que recebeu da filha e da mulher. “Esse mérito de dinheiro eu queria explicar para o MP”, disse.

Laranjas

Dados da movimentação financeira de Fabrício Queiroz indicam que ao menos uma assessora depositou quase todo o salário recebido na Alerj, em determinado período sob investigação no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), no esquema que engrossou o caixa do filho de Jair Bolsonaro (PSL).

Funcionária legislativa ligada ao deputado fluminense e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL) desde 2007, Nathalia de Melo Queiroz trabalhou como recepcionista em uma rede de academias no Rio no mesmo período em que aparecia na folha de pagamento da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio).

Já o filho do presidente eleito divulgou nota oficial negando “qualquer ilegalidade ou irregularidade” na atuação de Nathalia de Melo Queiroz como assessora parlamentar no seu gabinete.

Em 2011, Nathalia acumulava as aulas da faculdade, o emprego fixo como recepcionista e cargo na Alerj, primeiro no departamento de taquigrafia e debates, no qual ficou até julho daquele ano, cujo salário bruto era R$ 2.950,66.

Em agosto de 2011, a jovem recebeu outra atribuição na Casa: assessora direta de Flávio Bolsonaro. Ela permaneceu na função até dezembro de 2016 com vencimentos de R$ 9.835,63 mensais.

Nathalia é mencionada pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) no relatório que identificou movimentação atípica em nome do pai dela, que também trabalhou como assessor de Flávio, no valor de R$ 1,2 milhão (referente apenas ao período de 13 meses, de janeiro de 2016 a janeiro de 2017).

Na época, ela era funcionária de Flávio e transferiu para o pai R$ 84.110,04. Na quinta-feira (13), o filho mais velho de Jair Bolsonaro (PSL) se manifestou sobre o caso por meio das redes sociais e negou qualquer irregularidade.

Bolsonaro

O amigo de Jair Bolsonaro, e paí de Nathalia, Fabrício de Queiroz, movimentou R$ 1,2 milhão no período de um ano, enquanto servia como assessor e motorista no gabinete de Flávio Bolsonaro, filho do presidente eleito, na Assembleia Legislativa do Rio.

A movimentação na conta de Queiroz foi considerada “atípica” pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Ele depositou até mesmo um cheque de R$ 25 mil reais para Dona Michele, esposa de Bolsonaro. O presidente eleito afirmou que o repasse se deve ao pagamento de um empréstimo que fez ao ex-assessor, no valor total de R$ 40 mil.

“Emprestei dinheiro para ele em outras oportunidades. Nessa última agora, ele estava com um problema financeiro e uma dívida que ele tinha comigo se acumulou. Não foram R$ 24 mil, foram R$ 40 mil. Se o Coaf quiser retroagir um pouquinho mais, vai achar os R$ 40 mil”. Jair Bolsonaro.

O amigo de Bolsonaro fez 176 saques de dinheiro em espécie de sua conta em 2016. Uma retirada a cada dois dias naquele ano. E mais da metade dos depósitos em espécie recebidos, pelo ex-motorista de Flavinho, aconteceram no dia do pagamento dos funcionários da Assembleia Legislativa do Rio ou até três dias úteis depois.