29 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Após recuo da Fiesp, Agroindústria publica forte manifesto em favor da democracia

Ameaça da Caixa e Banco do Brasil, além de pedido da Fiesp, empurraram texto da Fiesp para depois de 7 de Setembro

Horas depois de a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) anunciar que suspenderia um manifesto em prol do Estado Democrático de Direito, sete entidades da agroindústria brasileira publicaram um manifesto com o mesmo objeto por contra própria.

Desta vez, mais direto e claro.

“As amplas cadeias produtivas e setores econômicos que representamos precisam de estabilidade, de segurança jurídica, de harmonia, enfim, para poder trabalhar”. Trecho da nota do agro.

O texto diz que o Brasil, como uma das maiores economias do planeta, não se pode apresentar ao mundo como uma sociedade permanentemente tensionada em crises intermináveis ou em risco de retrocessos e rupturas institucionais. Em nenhum momento se cita o nome do presidente da República, Jair Bolsonaro, ou de qualquer um dos poderes, mas o recado é claro:

“O Brasil é maior e melhor que a imagem que temos projetado ao mundo”, dizem os autores, antes de advertirem: “Isto está nos custando caro e levará tempo para reverter”. Trecho da nota.

Assinam a nota a Abag (Associação Brasileira do Agronegócio); Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais); Abisolo (Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal); Abrapalma (Associação Brasileira de Produtores de Óleo de Palma); CropLife Brasil; Ibá (Indústria Brasileira de Árvores) e o Sindiveg (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal).

Ao contrário do agro, a Fiesp deixou em suspenso a publicação de um manifesto pedindo harmonia entre os poderes, a pedido do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O apoio da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) a esta manifestação irritou a ala econômica do governo – que ensaiou retirar a Caixa Econômica e o Banco do Brasil da organização.

Leia a íntegra da nota

“As entidades associativas abaixo assinadas tornam pública sua preocupação com os atuais desafios à harmonia político-institucional e, como consequência, à estabilidade econômica e social em nosso país. Somos responsáveis pela geração de milhões de empregos, por forte participação na balança comercial e como base arrecadatória expressiva de tributos públicos. Assim, em nome de nossos setores, cumprimos o dever de nos juntar a muitas outras vozes responsáveis, em chamamento a que nossas lideranças se mostrem à altura do Brasil e de sua história agora prestes a celebrar o bicentenário da Independência.

A Constituição de 1988 definiu o Estado Democrático de Direito no âmbito do qual escolhemos viver e construir o Brasil com que sonhamos. Mais de três décadas de trajetória democrática, não sem percalços ou frustrações, porém também repleta de conquistas e avanços dos quais podemos nos orgulhar. Mais de três décadas de liberdade e pluralismo, com alternância de poder em eleições legítimas e frequentes.

O desenvolvimento econômico e social do Brasil, para ser efetivo e sustentável, requer paz e tranquilidade, condições indispensáveis para seguir avançando na caminhada civilizatória de uma nacionalidade fraterna e solidária, que reconhece a maioria sem ignorar as minorias, que acolhe e fomenta a diversidade, que viceja no confronto respeitoso entre ideias que se antepõem, sem qualquer tipo de violência entre pessoas ou grupos. Acima de tudo, uma sociedade que não mais tolere a miséria e a desigualdade que tanto nos envergonham.

As amplas cadeias produtivas e setores econômicos que representamos precisam de estabilidade, de segurança jurídica, de harmonia, enfim, para poder trabalhar. Em uma palavra, é de liberdade que precisamos — para empreender, gerar e compartilhar riqueza, para contratar e comercializar, no Brasil e no exterior. É o Estado Democrático de Direito que nos assegura essa liberdade empreendedora essencial numa economia capitalista, o que é o inverso de aventuras radicais, greves e paralisações ilegais, de qualquer politização ou partidarização nociva que, Ionge de resolver nossos problemas, certamente os agravará.

Somos uma das maiores economias do planeta, um dos países mais importantes do mundo, sob qualquer aspecto, e não nos podemos apresentar à comunidade das Nações como uma sociedade permanentemente tensionada em crises intermináveis ou em risco de retrocessos e rupturas institucionais. O Brasil é muito maior e melhor do que a imagem que temos projetado ao mundo. Isto está nos custando caro e levará tempo para reverter.

A moderna agroindústria brasileira tem história de sucesso reconhecida mundo afora, como resultado da inovação e da sustentabilidade que nos tornaram potência agroambiental global. Somos força do progresso, do avanço, da estabilidade indispensável e não de crises evitáveis. Seguiremos contribuindo para a construção de um futuro de prosperidade e dinamismo para o Brasil, como temos feito ao longo dos últimos anos. O Brasil pode contar com nosso trabalho sério e comprovadamente frutífero.”