25 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Após vídeo de Pazuello, senador Randolfe diz que CPI abriu a caixa de pandora

Pazuello se propôs a comprar a vacina a intermediários com o preço triplicado

Pazuello flagrado na corrupção dentro do governo Bolsonaro

O senador Randolfe Rodrigues disse nesta sexta-feira, 16, após a divulgação do video do general Pazuello, que a CPI da Covid-19 abriu “a caixa de pandora”.

No vídeo o então ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello se propõe a  comprar a vacina Coronavac a US$ 28 a dose, quando o Butantan entregava o imunizante por US$ 10. O flagrante da corrupção no ministério expôs, para o senador, o mercado corrupto dentro do governo Bolsonaro.

 Quando Pazuello se comprometeu a assinar contrato para a compra de 30 milhões de doses da vacina chinesa CoronaVac, do laboratório Sinovac, oferecidas por intermediadores por quase o triplo do valor negociado com o Instituto Butantan,  o imunizante já havia sido menosprezado seguidas vezes pelo presidente Jair Bolsonaro, na briga política com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). O chefe do Planalto chegou a afirmar, no ano passado, que a “vacina chinesa de João Doria” não seria adquirida pelo governo federal.

A negociação de Pazuello com os intermediadores foi revelada pela Folha de S. Paulo, que divulgou um vídeo da reunião, ocorrida em 11 de março. A comitiva, liderada por um empresário apresentado como John, ofertava o imunizante a US$ 28 por dose, quase três vezes o valor da CoronaVac do Butantan (US$ 10). Segundo a publicação, o intermediador representaria uma empresa chamada World Brands, de Santa Catarina.

“Estamos aqui reunidos no Ministério da Saúde recebendo uma comitiva enviada pelo John. Uma comitiva que veio tratar da possibilidade de nós comprarmos 30 milhões de doses, numa compra direta com o governo chinês, e já abre também uma nova possibilidade de termos mais doses”, diz Pazuello no vídeo. “Já saímos daqui, hoje, com o memorando de entendimento assinado e com o compromisso do ministério de celebrar, no mais curto prazo, um contrato para podermos receber essas (sic) 30 milhões de doses no mais curto prazo possível.”

 

O vídeo desmente o próprio depoimento de Pazuello à CPI da Covid em 19 de maio. Na comissão, ao ser questionado pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL) sobre o motivo de não ter liderado a negociação com a Pfizer para a compra de vacina, alegou que um ministro “jamais deve receber uma empresa” e ainda alfinetou o senador. “Eu sou o dirigente máximo, sou o decisor, não posso negociar com empresa. Quem negocia com empresa é o nível administrativo. O ministro jamais deve receber uma empresa, o senhor deveria saber disso”, reprovou.

A reunião com os empresários, fora da agenda do ministro, ocorreu no gabinete do então secretário-executivo da pasta, coronel Elcio Franco. No vídeo, o empresário que se apresenta como porta-voz do grupo agradeceu. “Muito obrigado, ministro, pela oportunidade de nos receber também. Como empresário, eu acho que sempre nós pensamos no trabalho, mas na contribuição social que podemos oferecer hoje”, afirmou. “E junto, em parceria com tanta porta aberta que o ministro nos propôs, eu acredito que podemos fazer essa parceria por um longo e duradouro tempo, para vários outros produtos, inclusive, se necessário.”

O negócio só não teria ido para a frente porque, com a segunda onda de mortes pela covid-19 e a crise de oxigênio em hospitais de Manaus, a presença de Pazuello à frente da pasta se tornou insustentável e ele acabou exonerado.

Apesar da grave crise sanitária, o governo atrasou a negociação de vacinas com diversos fornecedores, entre os quais, o Butantan. Em outubro do ano passado, Pazuello chegou a anunciar a compra de 46 milhões de doses do instituto paulista, mas o ministério recuou após Bolsonaro afirmar que o imunizante não seria adquirido. O Executivo também ignorou diversas ofertas da Pfizer e só assinou contrato com a empresa em 8 de março, em meio a muita pressão, inclusive do Congresso.