23 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Economia

Bancos temem que Bolsonaro “dê uma de Dilma” e gaste mais do que pode

Economista veem na queda da Bolsa e alta do dólar desconfiança na política de controle fiscal pós-pandemia

Na avaliação de banqueiros, gestores de grandes fundos de investimento e economistas, existe o risco de o presidente Jair Bolsonaro pisar no acelerador dos gastos. Com isso, ele pode seguir os passos de Dilma Rousseff (PT).

A ex-presidente foi alvo de impeachment por descumprir regras fiscais e, assim, cometer crime de responsabilidade. Alerta esse, inclusive, que foi dado pelo próprio Paulo Guedes, ministro da Economia de Bolsonaro.

Banqueiros

Diante disso, a Folha ouviu três banqueiros, dois economistas dos principais bancos de investimento e dirigentes de dois grandes fundos de private equity que atuam no país.

E para eles, a pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (13) mostrou que a ajuda financeira do governo para reduzir o impacto da pandemia nas famílias catapultou o apoio a Bolsonaro.

Agora, o presidente sinaliza mais disposição em eleger prefeitos neste ano. Além disso, ele pode usar o assistencialismo para tentar a reeleição. A reação negativa do mercado nesta segunda-feira (17) foi reflexo dessa preocupação.

Dólar e Bolsa

O sócio de uma das principais gestoras de investimentos do país alertou para a alta do dólar e para a queda do Ibovespa, principal índice do mercado, no momento em que as demais Bolsas seguem tendência de alta.

Para ele, esse descolamento mostra que os ventos começaram a mudar no Brasil. Na sua avaliação, 90% dessa queda traduz a certeza de que o mercado passou a ter sobre a deterioração do quadro fiscal.

Os 10% restantes se devem ao desgaste do ministro Paulo Guedes (Economia) diante da insistência de Bolsonaro em estender o auxílio emergencial de R$ 600 às famílias e o crédito às empresas em dificuldades na pandemia até o fim deste ano.

Como Dilma

Esse gestor afirmou que a preocupação de todo o mercado é que Bolsonaro se torne uma Dilma, e o ministro Guedes, um Joaquim Levy, que foi ministro da Fazenda da petista no momento em que a relação com o Congresso estava por um fio.Levy não conseguiu convencer a chefe a implementar um ajuste fiscal, tampouco conseguiu avançar com a agenda da economia no Congresso. Ele deixou o governo, Dilma caiu.

Os presidentes dos dois bancos consultados dão como certo o agravamento dos parâmetros da economia porque consideram que Bolsonaro já fez sua escolha. Para eles, existe espaço para que, mesmo com mais gastos durante a pandemia, o país refinancie sua dívida sem colapsar a economia.

Esse cenário, ainda segundo eles, é o mesmo daquele que levou o país à eleição de Bolsonaro. Para eles, o presidente repete, portanto, o modelo de Dilma.

Guedes

Na leitura dos banqueiros, o conflito entre Guedes e o governo para tentar fazer valer o teto de gastos —que limita o aumento das despesas à inflação do ano anterior— reflete a escolha de Bolsonaro por implementar gastos para garantir a reeleição.

Mesmo assim, os executivos disseram acreditar que o chefe da Economia não deve abandonar o posto. Ele resistirá até ter algo bom para apresentar.

Seria uma grande surpresa, na sua avaliação, se o ministro jogasse a toalha ainda neste ano. Para ele, a queda da Bolsa e a alta do dólar são sinais tímidos de um desgaste do ministro.

Mesmo assim, os investidores preferem que Guedes não saia do governo. Para eles, ele é o único com interlocução direta com Bolsonaro e habilidade suficiente para demovê-lo do que chamam de loucura.