23 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
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Bolsonarismo mata: Culto de ódio cria ares de terrorismo e ameaça democracia

Jair escapou de condenação por terrorismo pelo Conselho de Justificação Militar quando eleito vereador no final dos ano 80 e hoje dissemina um ódio assassino entre seus seguidores

Por uma série de cenários e conjecturas que qualquer brasileiro médio deve saber (ainda que de forma torta ou duvidosa), os eleitores do Brasil conduziram à presidência Jair Bolsonaro, que em plena campanha, em discurso no Acre em 2018, disse que iria “fuzilar a petralhada“.

Capitão reformado do Exército, Jair se lançou na política no final da década de 80, sendo eleito vereador pelo Rio de Janeiro e ficando no cargo por apenas dois anos, pois fora eleito deputado federal pelo mesmo Estado – inclusive com suspeita de fraudes no voto impresso em 1994.

Seguiu mamando nas tetas do governo esse tempo todo. Durante sabe-se lá quanto tempo, roubava o salário de seus assessores. Dormia, não fazia projetos e apenas ofendia pensamentos contrários. Isso porque era apoiador de Collor (e depois de Lula), defendeu Hugo Chávez e dizia que comunismo era coisa do passado.

Acervo do Estadão (portanto, claro, não é montagem nem fake news)

Sempre foi um homem sem bússola moral, que age de formas diferentes a depender de seu público. Como quando em carta aberta na Veja, defendendo greve por melhores salários para os militares. E que, para tanto, planejara uma série de bombas em quarteis e no reservatório de água do Rio de Janeiro para passar seu recado.

Não, não é uma figura de linguagem: Bolsonaro realmente agiu como terrorista. E foi julgado como tal. A decisão do julgamento pelo Exército, que já o chamou  corno e muambeiro em relatório oficial, acabou porque ele fora eleito vereador.

Lei mais: Hoje faz 34 anos que Bolsonaro foi expulso do Exército por planejar atentado terrorista

E com atitudes de puro terrorismo ideológico, foi ganhando espaço e terreno na política nacional. Primeiro como uma piada nos programas CQC da Band e da Luciana Gimenez, da RedeTV!, como o “homem que não tinha medo de falar a verdade”. Alcunha de quem é um completo racista, homofóbico e misógino – e que infelizmente passou por muito tempo como piada.

Mas quem se identificava, não ria. Bolsonaro era um reflexo dos descontentes. Dos incels ou frustrados por problemas sociais ou financeiros. Os “cidadãos de bem” ou “pais de família” que viam em Jair alguém que eles poderiam tomar uma cervejinha no bar. Ou mesmo para ser presidente.

Gente que concordava com um ser que prometia em entrevista na televisão que, se fosse presidente, mataria mais de 30 mil em uma guerra civil. Mas que na verdade é um incapaz que não sabe manusear uma pistola e mesmo defendendo armar sua população “pelo bem do estado democrático“, não consegue proteger nem mesmo sua arma, que foi levada junto com a bicicleta num assalto.

“Mesmo armado, me senti indefeso”. Assalto sofrido por Bolsonaro em 1995 culminou com a morte misteriosa de um bandido e de sua família

Como bastião da honestidade e integridade, Jair foi tido como o “político mais honesto do mundo”. Após se destacar fazendo ampla defesa de torturadores na Comissão da Verdade e com um discurso de pleno ódio em seu voto no Impeachment de Dilma, foi lançado como presidenciável na onda de extrema-direita mundial, iniciada por Steve Bannon e Donald Trump.

Bolsonaro conseguiu convencer que apenas o PT é corrupto, e não ele. Ficaria praticamente de quatro pelo seu ídolo Trump (mas ficar de quatro hétero), líder americano pelo qual ele literalmente declarou juras de amor.

Convenceu milhões que, como ele, não tem escolaridade, de que universitários são maconheiros causadores de balbúrdia. Convenceu que a Amazônia não pega fogo porque é úmida. Convenceu que “no Brasil não existe fome“. Convenceu que o Judiciário é vilão malvado. Convenceu que no seu governo “não há corrupção“.

Ainda é desconcertante, mas também convenceu que durante uma pandemia não era necessário usar máscara e nem mesmo se vacinar. Jura que não se imunizou, apesar de esconder seu cartão de vacinação por um século. Disse que máscara era coisa de viado e que nem mil pessoas iriam morrer. Pois bem: sua seita colaborou para centenas de milhares de mortes.

O bolsonarismo é uma seita suicida e assassina.

Apesar de todas as mentiras, contadas por uma figura que só passeia de jet-ski e gasta milhões num cartão cheio de sigilo, passando a imagem de pessoa humilde que come pão com leite condensado ou comida com muita farofa, ele ainda consegue conduzir seu exército a agir por ele – ainda que de forma não oficial.

Com mentiras e desinformações online, com emparelhamento do governo, com falas antidemocráticas. Alguns, diriam até, criminosas:

A fala acima é de dias atrás, pouco antes de um bolsonarista invadir o aniversário de um petista, que fazia uma festa com Lula e PT como temas e executá-lo diante da mulher e dos filhos. De forma imoral, Bolsonaro comentou o caso dizendo que violência é coisa da esquerda.

Ele está há anos pregando o ódio, dizendo que até mesmo Jesus Cristo usaria uma arma para se proteger – ignorando completamente que o filho de Deus veio exatamente para morrer por nossos pecados, enquanto oferecia a outra face quando agredido.

Isso porque, nesta mesma semana, jogaram uma bomba caseira com fezes, dentro de uma garrafa pet, no público que acompanhava um evento com Lula. No mesmo dia que o juiz que determinou a prisão do ex-ministro do MEC foi atacado com fezes no para-brisa de seu carro em movimento.

Peço que atente para esses trechos da Lei Antiterrorismo, denominação dada à lei nacional brasileira nº 13.260/2016, que tipifica o que o terrorismo consiste:

Atos de terrorismo

  • I – usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consigo explosivos, gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicos, químicos, nucleares ou outros meios capazes de causar danos ou promover destruição em massa;
  • II – sabotar o funcionamento ou apoderar-se, com violência, grave ameaça a pessoa ou servindo-se de mecanismos cibernéticos, do controle total ou parcial, ainda que de modo temporário, de meio de comunicação ou de transporte, de portos, aeroportos, estações ferroviárias ou rodoviárias, hospitais, casas de saúde, escolas, estádios esportivos, instalações públicas ou locais onde funcionem serviços públicos essenciais, instalações de geração ou transmissão de energia, instalações militares, instalações de exploração, refino e processamento de petróleo e gás e instituições bancárias e sua rede de atendimento;
  • III – atentar contra a vida ou a integridade física de pessoas.

Não dá para esperar mais.

Estamos lidando com terroristas. Ainda que nem todos os seguidores do presidente sejam violentos, o discurso é extremamente danoso. Questão de semântica, que seja, mas o bolsonarismo precisa acabar.

E como alguns já estão partindo para as vias de fato, esse discurso precisa acabar imediatamente, não apenas para o bem da esmagadora maioria da não que não é bolsonarista, mas também pela democracia do país.

Não é morte ao bolsonarista. É morte ao bolsonarismo.

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