23 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Esportes

Bolsonaro aceita Brasil como sede da Copa América, com forte oposição no país e no mundo

Torneio recebeu o apelido de “Cova América” por causa da pandemia no país, motivo que tirou o torneio da Argentina

A Conmebol anunciou, nesta segunda (31), que a Copa América será realizada no Brasil, país que tem mais de 462 mil mortes por covid-19 e que ocupa o 2° lugar no mundo com mais óbitos em decorrência da doença.

A entidade ainda agradeceu ao presidente Jair Bolsonaro ao comunicar a decisão, depois da Argentina ter recusado sediar o torneio exatamente por causa do surto do novo coronavírus.

A Copa América, inicialmente, seria dividida entre Colômbia e Argentina; no último dia 20 de maio, a Colômbia pediu adiamento da competição – o país passa por período de instabilidade, com enormes protestos populares – mas a Conmebol decidiu excluir o país.

Chamamento

O Brasil sequer estava em pauta até a manhã desta segunda-feira. O pedido inicial foi feito pela Conmebol à Confederação Brasileira de Futebol. A CBF, por sua vez, pediu, também na manhã desta segunda, autorização do Governo Federal, que foi concedida.

A Conmebol disse que os locais das partidas e o calendário completo do torneio serão divulgados “nas próximas horas”. A seleção brasileira está no Grupo B do torneio, ao lado de Colômbia, Equador, Peru e Venezuela – a chave deve ser rebatizada como “Grupo A” em breve.

A estreia da equipe de Tite, até o momento, está marcada para o dia 14 (segunda-feira), contra a Venezuela, fora de casa.”O torneio de seleções mais antigo do mundo fará vibrar todo o continente”, escreveu a Conmebol no anúncio. Por enquanto, apenas uma sede da Copa América está confirmada. Será o estádio Mané Garrincha, em Brasília.

Também são cogitadas a Arena das Dunas, em Natal, e a Arena Pernambuco, que fica na região metropolitana do Recife. Os governos estaduais de ambos os locais, porém, já se posicionaram contra sediarem o torneio.

Outra opção seria a Arena Amazônia, em Manaus, mas o local pode exigir grandes deslocamentos das seleções pelo país.

Oposição

No Twitter, nomes como os dos ex-candidatos à presidência Guilherme Boulos e Ciro Gomes criticaram a decisão.

O Partido dos Trabalhadores decidiu hoje que entrará com uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal) para tentar evitar a realização da Copa América de futebol no país. A decisão foi anunciada primeiro pelo deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP).

Padilha disse que já conversou com a também deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente nacional da legenda, para que o partido acione o Supremo. O maior argumento para questionar a realização do torneio no Brasil será a situação da pandemia de covid-19, que segue com números altos.

Também pelo Twitter, Padilha afirmou que já encaminhou um ofício ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), pedindo para que a gestão estadual não permita a realização da Copa América no estado. Em nota, o governo paulista disse que não vai se opor à disputa do torneio em São Paulo.

Repercussão internacional

Os jornais Le Monde (França), The Guardian (Reino Unido) e The New York Times (EUA) repercutiram a decisão da Conmebol de transferir a realização da Copa América para o Brasil, em plena pandemia. A crise sanitária obrigou os países vizinhos a cancelarem o mesmo torneio, apesar de sua importância financeira.

O site do francês Le Monde destaca a insatisfação de jogadores sul-americanos com a realização da Copa América no Brasil. “O Brasil registrou mais de 460.000 mortes por Covid-19 e os epidemiologistas temem uma terceira onda de contaminação. Neste contexto, alguns jogadores internacionais expressaram sua oposição à realização do torneio”, destaca o jornal.

“Estou impressionado com o fato de que a Copa América será disputada apesar da situação atual”, disse o uruguaio Luis Suarez ao vespertino francês. Seu compatriota, Edinson Cavani, também denunciou a decisão. “É uma irresponsabilidade terrível que tudo se faça para jogar a Copa América. Nada sobre a situação social importa aqui, nem mesmo os riscos associados ao vírus”, publica Le Monde.

Para o jornal britânico The Guardian, a decisão da Conmebol de realizar o torneio no Brasil é “surpreendente”. “O país tem um dos maiores índices de mortalidade Covid-19 do mundo, com mais de 400 mil óbitos. Manifestações foram realizadas em todo o país para exigir o impeachment do presidente, Jair Bolsonaro, por sua forma de lidar com a crise”, escreveu.

O norte-americano The New York Times reportou que “o Brasil, onde o número de novos casos diminuiu recentemente, mas permanece alto, viu mais mortes por Covid-19 do que qualquer outro país, além da Índia e dos Estados Unidos”.

Segundo o jornal, “seu presidente, Jair Bolsonaro, zombou repetidamente de lockdowns, do uso de máscaras e outras medidas, desprezou a orientação de especialistas em saúde para lidar com a pandemia”, contextualiza a publicação.