Em viagem oficial, o presidente Jair Bolsonaro (PL), como outros chefes de Estado, até visitou o caixão da rainha Elizabeth 2ª neste domingo (18) e assinou o livro de condolências da soberana. Mas também fez da viagem a Londres ato de campanha e discursou em tom eleitoral a um grupo de apoiadores na capital britânica.
Na casa do embaixador do Brasil em Londres, Bolsonaro foi à varanda e falou a um grupo de brasileiros vestidos de verde e amarelo que o recepcionaram com gritos de seus slogans de campanha.
O presidente disse, entre outras coisas, que ganhará a eleição no primeiro turno, ainda que pesquisas de intenção de voto desenhem um cenário desfavorável a ele, atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Levantando bandeiras conhecidas de seu governo e de sua trajetória política no Congresso, Bolsonaro também discursou contra a legalização do aborto, a política de drogas e o que ele chama de “ideologia de gênero”.
Ainda que seu mandato deixe como herança o endividamento e o agravamento da dívida, disse que a economia vai bem e também realçou a biodiversidade do país, embora o desmatamento tenha avançado em seu governo.
“O nosso lema é Deus, pátria, família e liberdade”, afirmou, adicionando o termo “liberdade” à frase adotada por fascistas brasileiros da Ação Integralista e pela ditadura Salazar em Portugal.
Bolsonaro sempre esteve acompanhado da primeira-dama, Michelle, transformada em peça-chave de sua campanha na corrida pela reeleição para conquistar principalmente o voto feminino.
Na visita ao caixão, também esteve ao lado do pastor Silas Malafaia, aliado que integra a comitiva brasileira e a quem o presidente tem chamado de “conselheiro”.
Malafaia tem sido exaltado por Bolsonaro como conselheiro de campanha. Como outras figuras que rodeiam o presidente, o pastor também dissemina teorias infundadas a apoiadores, a exemplo da ideia de que possa haver fraude no sistema de urnas eletrônicas.
Repercussão
O jornal The Guardian, referindo-se ao presidente como “populista sul-americano”, reportou que Bolsonaro expressou “profundo respeito” pela família real, mas logo mudou o discurso para a agenda de campanha.
Já o Daily Mail, no qual Bolsonaro é descrito como um governante populista de direita e integrante da lista de “líderes controversos” convidados para o funeral da rainha, relatou que o presidente fez uma espécie de comício. “Para ganhar pontos políticos em casa antes das próximas eleições”, diz o texto.
A deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT, em linha semelhante, disse que Bolsonaro “faz campanha eleitoral numa viagem oficial, custeada com recursos públicos”. “Viajam com o presidente pessoas que não são agentes públicos, mas cabos eleitorais dele; um abuso de poder político e econômico.”