18 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Com medo de impeachment Bolsonaro parte para o ‘é dando que se recebe’

As negociações estão sendo conduzidas pelo próprio Bolsonaro e o Ministro Luiz Eduardo Ramos

Ex-presidiário Roberto Jefferson quer de novo o Ministério do Trabalho

A estratégia de Jair Bolsonaro (sem partido) de se aproximar do Centrão pode dar ao presidente o apoio de um grupo decisivo para seu futuro no cargo. Se tiver de barrar eventual processo de impeachment na Câmara, Bolsonaro precisará de 172 votos. Hoje, ele não tem uma base no Congresso, mas, com a distribuição de cargos, pode reunir 173 parlamentares – um voto a mais do que o número necessário para impedir a abertura de processo.

Dirigentes de partidos que estiveram com Bolsonaro, recentemente observaram que, com a mudança de tratamento e oferta de cargos nos segundo e terceiro escalões, ele conquistou siglas de bancadas médias do Centrão, que fazem qualquer coisa pelo “é dando que se recebe”.

As tratativas estão sendo feitas pelo próprio Bolsonaro e o ministro da Casa Civil, general Luiz Eduardo Ramos.

A negociação com o líder do Centrão, deputado Arthur Lira (PP), já resultou na entrega do FNDE, com R$ 5,5 bilhões de orçamento, uma vice-presidência da Caixa e a presidência do Banco do Nordeste.

Outra negociação emblemática é com o líder do PTB, Roberto Jefferson, ex-presidiário, condenado por comandar propinas no “mensalão”. Jefferson quer de volta o controle do Ministério do Trabalho, que chegou a ter no governo Michel Temer, mas, novamento por corrupção foi afastadodo governo. Na época, a filha dele, Cristiane Brasil era a ministra.

Com isso, rachou o bloco que dava sustentação ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a quem passou a atacar como principal adversário no Congresso.

Com o movimento para sobreviver, Bolsonaro está de olho nos votos do Progressistas (40 deputados), partido que abrigou dois de seus filhos, PL (39), PSD (37), Republicanos (31), Solidariedade (14) e PTB (12). A soma dá 173, sem levar em conta eventuais defecções. Além disso, o presidente teria pelo menos metade dos votos da bancada do PSL, formada por 53 deputados, com a dissidência de seu antigo partido, que poderá migrar para o Aliança pelo Brasil.

Bolsonaro tem, ainda, parcela de apoio no MDB (34), na bancada da bíblia, nas frentes evangélica e católica, e adesões individuais em partidos como Podemos, Patriota, PSC e outras siglas nanicas.

Como mostrou o jornal O Estado de S. Paulo, o presidente, em 16 meses de mandato, é alvo de 31 pedidos de impeachment na Câmara. O número é superior ao de seus antecessores e cresceu após o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro acusá-lo de interferência política na Polícia Federal. Em outra frente, parlamentares também tentam tirar do papel uma CPI para apurar as denúncias.

Maia disse ontem que o momento é de cautela. “Temos uma CPI das Fake News que vai avançar, um inquérito do ministro Celso de Mello (do Supremo Tribunal Federal) que vai avançar e nós vamos focar nas pautas de combate ao coronavírus”, afirmou ele.

Herança

Na prática, o Centrão comanda a Mesa Diretora da Câmara desde 2015, ano em que o então deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ) foi eleito para a presidência da Casa. Cunha acabou preso e condenado por Moro em processo da Lava Jato. Embora a saída do “superministro” tenha desgastado Bolsonaro na relação com seu eleitorado, líderes do Centrão – bloco do qual o próprio presidente fez parte no passado, quando era deputado – comemoraram a queda.

Moro e Maurício Valeixo, seu braço direito na Polícia Federal, simbolizavam a herança da Lava Jato, uma operação que atingiu dezenas de parlamentares e partidos do Centrão. Bolsonaro se elegeu rechaçando a “velha política” e, com isso, Maia seguia como interlocutor oficial do grupo no Planalto. Não será mais assim. Diante das crises política e econômica e com o agravamento da pandemia do coronavírus, Bolsonaro decidiu mudar o modelo de negociação com o Congresso e procura cada vez mais isolar Maia.