18 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Condição do centrão para se aliar com governo foi Bolsonaro abandonar discurso golpista

Entrada do bloco de independentes aconteceu no maior momento de fragilidade, com crise institucional e pedidos de impeachment

Jair Bolsonaro durante audiência com Ciro Nogueira (PP-PI). Foto: Marcos Corrêa/PR

Após contestar as urnas eletrônicas por mais de dois anos, o presidente Jair Bolsonaro (PL) retirou do seu repertório as ameaças ao sistema eleitoral e passou a dizer que as chances de fraude em 2022 são mínimas.

Isso é reflexo de acordo político com o centrão para salvar o mandato de Bolsonaro, que repetia aos seus apoiadores todas as ameaças e estímulos a ocupar as ruas em defesa do voto impresso.

Dirigentes desses partidos embarcaram no governo e impuseram, como uma das condições para caminharem juntos em 2022, que Bolsonaro cessasse as ameaças de golpe e ao sistema eleitoral.

O acordo envolve maior acesso do Congresso às verbas federais, e certa tolerância, por parte de líderes do centrão, com o discurso negacionista de Bolsonaro sobre a Covid-19.

Agora, o presidente passou a afirmar que o pleito do próximo ano será mais confiável, pois as Forças Armadas passaram a integrar o grupo que fiscalizará a votação.

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Centrão em ação

Além disso, enquanto a cada decisão do STF a raiva do presidente parecia não dar trégua para crise, os ministros Ciro Nogueira (Casa Civil) e Flávia Arruda (Secretaria de Governo) passavam tardes inteiras reunidos na sala de Bolsonaro —o que não é habitual para ministros que devem despachar sobre diversos assuntos.

É nas tradicionais lives de quinta-feira que o mandatário conversa com seu eleitorado. E, naquela época, aliados do presidente cercavam-no durante a transmissão para sinalizar sempre que ele estivesse entrando no campo da crise institucional.

Sob a tutela do centrão, que entrou no governo no seu momento de maior fragilidade, com mais de uma centena de pedidos de impeachment, o Planalto de Bolsonaro se profissionalizou e aderiu de vez à dança do toma-lá-dá-cá.

O encontro com o ex-presidente Michel Temer (MDB) nasceu do que Bolsonaro ouviu desteo grupo. O próprio presidente ligou para o emedebista e combinou de levá-lo, por avião da FAB (Força Aérea Brasileira), para o Planalto. A aproximação foi intermediada por Bruno Bianco (AGU), com apoio de Flávia Arruda, Ciro Nogueira e do ministro do STF Dias Toffoli.

Bolsonaro foi alertado, sobretudo, para dar um fim urgente à greve dos caminhoneiros, seus apoiadores, que se desenhava. Temer disse ao presidente que aquele seria o seu fim.

Não que o presidente tenha entrado numa fase de paz e amor. Ele ainda dá suas ratadas, especialmente ao lado dos apoiadores. Mas deve ter sentido a perda de popularidade e baixo número de intenções de votos. E nos próximos meses, tentará de tudo para salvar seu fim de mandato e, quem sabe, até uma reeleição.