25 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Congresso e TSE não entram em acordo sobre voto impresso e Bia Kicis ataca judiciário

Sem fraudes há 25 anos, urna eletrônica está na mira da presidente da CCJ, que quer retorno ao modelo onde Bolsonaro teve suspeita de fraude em 1994

A deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF) acusou ontem (5) o Judiciário de interferir na discussão sobre a adoção do voto impresso nas eleições do ano que vem (PEC 135/19).

Autora da proposta, Bia Kicis disse estar preocupada com a troca de membros da comissão especial que analisa o texto, que segundo ela atendia a pedidos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A votação da PEC na comissão está prevista para quinta-feira (8).

“Estamos sofrendo campanha e ataque do Judiciário, que está interferindo na missão do Parlamento. Não estou atacando o STF, estou zelando pela independência dos nossos poderes e pela hombridade do Parlamento”. Bia Kicis.

Leia mais: Em 1994, Jornal do Brasil noticiava votos falsificados em favor de Jair Bolsonaro

Já o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) afirmou que Bia Kicis deveria evitar ataques ao Supremo e disse que a proposta acirra os conflitos entre os poderes.

“A presidente da CCJ atacou abertamente os ministros do STF e insinuou que há pressão do Judiciário sobre o Legislativo. É preciso serenidade neste debate”. Orlando Silva.

Barroso

Enquanto isso, em sessão temática no Plenário realizada no mesmo dia (5) para debater ajustes na legislação eleitoral, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, alertou aos senadores sobre o risco de fraudes e judicialização da eleição de 2022 com a volta do voto impresso.

Alguns dos senadores que participaram da sessão apontaram que a aprovação da PEC 135/2019 para exigir a impressão do voto pode trazer insegurança ao processo eleitoral.

Aos senadores, Barroso reforçou que nunca foi registrada qualquer fraude nas urnas eletrônicas desde a implantação do sistema eletrônico de votação há 25 anos.

Na última eleição com votos em cédulas, por coincidência ou não, houve indício de fraudes em votos para Bolsonaro

Conforme o texto em discussão na Câmara, a ideia é que as cédulas poderão ser conferidas pelo eleitor e deverão ser depositadas em urnas para fins de auditoria. Mas Barroso considera que a medida representa um risco ao processo eleitoral.

“Se o candidato a presidente da República pedir recontagem, nós vamos ter 150 milhões de votos contados manualmente, aquelas mesas apuradoras que faziam o terror da vida brasileira antes das urnas eletrônicas. Vai criar dificuldade administrativa, oferece risco para o sigilo, risco grande de fraude e risco de judicialização, porque a contagem manual vai dar diferença em relação a contagem eletrônica. Até em caixa de banco ou caixa de empresa, no final do dia, você tem que fazer uma reconciliação”. Luís Roberto Barroso.

O ministro ainda apontou o custo da implantação de dispositivos para depósito dos comprovantes de votação e apontou uma contradição: o voto impresso viria das próprias urnas colocadas em suspeição.

“E é um paradoxo: o voto impresso seria imprimido pela mesma urna eletrônica que estaria sob suspeita. Portanto, se fraudar o eletrônico, frauda-se o impresso. De modo que nós vamos gastar R$ 2 bilhões, criar um inferno administrativo para essa licitação com um risco imenso de fraude e, pior, quebra de sigilo. Portanto, o voto impresso não é um mecanismo a mais de auditoria, ele é um risco para o processo eleitoral, porque nós abolimos o contato manual”. Luís Roberto Barroso.

Senadores

Em resposta à senadora Soraya Thronicke (PSL-MS), Barroso admitiu que poucos países no mundo adotam a votação por meio de urna eletrônica, mas afirmou que a urna brasileira é auditável:

“A urna brasileira é auditável dez vezes, é um engano acreditar que o voto impresso seja a única forma de auditoria. O sistema é bem auditável. O voto impresso vai nos criar um problema que é a manipulação dos votos”. Luís Roberto Barroso.

Contrário ao voto impresso, Marcelo Castro (MDB-PI) apontou que a proposta pode trazer insegurança e intranquilidade.

“Trazer o voto impresso, nós só traríamos insegurança, intranquilidade. Imagine um papelzinho que está dentro de uma urna, impresso aquele voto ali, e você ter que apurar no Brasil inteiro 150 milhões de votos. Isso é impraticáve. Nós vamos montar bancas apuradoras com essas cedulazinhas, e vai escapar para um lado, vai escapar para o outro, vai trazer uma intranquilidade geral”. Marcelo Castro.

Zenaide Maia (Pros-RN) lembrou de fraudes que ocorriam quando o voto era por cédulas de papel.

“Eu acho que esse voto impresso não vai somar nada. Quando eu era já adolescente, quando abriam as urnas, somava um; quando saía o resultado, no cartório eleitoral, saía diferente”. Zenaide Maia.

Vale lembrar: para comandar a Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) foi eleito como candidato do presidente Jair Bolsonaro para garantir o retorno do voto impresso.

Foto: Ana Oli