A vida é mesmo assim. Nos impõe uma canseira de burro de carga, mas é preciso seguir em frente atento e forte. Claro que aqui ou acolá há semre uma paradinha para relaxar. Ou com os amigos na mesa do bar ou até mesmo no próprio trabalho, quando se ouve lorota de quem não tem o que fazer.
E hoje o dia começou assim. Imagine que mal assumo meu lugar no computador para trabalhar, ouço uma voz se aproximando e cantando um velho sucesso do saudoso Dominguinhos.
– Vai ter forró/ lá na casa do Biu/ Você vai ver/ o que nunca viu…
Quem poderia ser? Ele, o Considerado.
Pensei que tinha visto passarinho verde logo pela manhã. Mas ele explicou que à noite havia passado na casa de um juiz amigo dele, que é da vara de família, e já tinha se acertado sobre o dinheiro da pensão da filha que estava atrasada. O medo de ir preso levou-o a perturbar o magistrado em casa. Mas, garante que foi bem recebido e entendido. “Afinal, sou lascado, desempregado, sem dinheiro e pelas minhas retinas nunca passaram propinas”, disse.
E voltou a cantoria: – De madrugada o forró tá animado/ Já tem cabra embriagado/ Que não sabe nem dançar…
Livrar-se de um pepino judicial é de fato motivo para alegria, comemoração. Mas, como o forrozeiro cantava mal pedi pra parar. Parou? Só de cantar, mas veio logo com a conversa.
– Você não gosta de forró, não é?
– Não gosto de lhe ouvir cantar, por que cantas muito mal.
– Mas eu estou treinando para cantar melhor no São João da Prefeitura do Rui.
– Não brinca…
– E você não viu não, eles vão gastar mais de R$ 1 milhão fazendo o forró de Maceió.
– E você vai cantar?
– Claro, e o dinheiro lá agora não é dividido em familia?
– Que história é essa Considerado?
– Juntou eu, meu primo, meu cunhado e minha irmã tocadora de zabumba e fizemos o quarteto ‘Palmeira Imperial’.
– Meu Deus do céu…
– Nós somos família, então tem que sobrar algum pra gente também. É mais de um milhão só no forró…
– Você vai ganhar aquele milhão lá da feira do rato. Ou então o sabugo.
– Você é besta…Tenha consideração pela nossa familia.
– Nossa não, sua. A propósito sabe qual o nome da música que você chegou aqui cantando?
– Sei que é o Dominguinhos quem canta, mas o nome não.
– É “Doidinho, doidinho, doidinho”. Igual a você.