28 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Correr na rua e mexer na própria bolsa: Negros dizem o que fariam se não existisse racismo no Brasil

Thread do repórter Gilberto Porcidonio moras pequenos grandes desejos da população negra em um país racista

Durante o Dia das Consciência Negra, manifestantes em diversos estados brasileiros protestaram contra o espancamento e morte de João Alberto, um cliente negro no Carrefour, no Rio Grande do Sul.

E dentre as diversas declarações sobre o caso, os comentários dos presidente e vice-presidente da República, Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão, se destacaram.

Enquanto Bolsonaro, que tem o amigo negro Hélio Negão ao seu lado (cujo qual já foi perguntado quantas arrobas pesa pelo próprio Jair), reforçou sua visão utópica de que ele não vê distinção de cores. É daltônico. Literalmente, o presidente se declaração deficiente no assunto.

Mourão falou mais e falou pior. Comparou com os EUA, graças a sua longuíssima experiência quando jovem na América do Norte. Com orgulho, disse que passou longos dois anos por lá. Na década de 60. Literalmente, o vice se declaração ultrapassado no assunto.

Foto: Bruno Batista /VPR

Sendo eles declarados homens brancos (embora Mourão seja descendente de índios, que segundo eles são “indolentes”) têm tanta propriedade no assunto quanto um homem de 70 anos discutindo sobre aborto.

Suas perspectivas e história de vida, já que ambos tiveram todas as facilidades possíveis mamando nas tetas do governo, recebendo o dinheiro alto e fácil no Exército, estão enraizadas demais para o “tocante” do racismo.

Diante do discurso deles, é fácil imaginar que eles achariam algo próprio de “narrativa esquerdista” (como mal colocou Sérgio Carmargo, presidente da Fundação Palmares) alguns dos comentários da thread de Gilberto Porcidonio, repórter do jornal O Globo, Extra e da Revista Época.

A pergunta não é recente: foi feita há pouco mais de um ano, mas diferente das comparações de Mourão, elas são (infelizmente) atemporais: a pergunta era simples: o que as pessoas fariam se o racismo acabasse hoje no Brasil.

Para alguns deveria chocar, para outros onde a realidade, nem tanto, mas em sua maioria, eles aproveitariam o fato de não ser vistos como suspeitos a todo momento.

Poderiam correr na rua, atrás de um ônibus, sem colocarem medo nas pessoas próximas. Mexer na própria bolsa em uma loja, sem fazer levantar a suspeita de que estão cometendo um roubo. Não ter que se arrumar ao entrar num banco ou loja, para não ser dado como bandido. Deixar as crianças tocarem em brinquedos nas lojas.

Para os que se incomodam com seus cabelos, eles dizem que seria um alívio fazerem o que quiser com eles: raspar, deixar crescer, fazer dreads, deixar natural ou não. E não ter que se produzir, para não ter que ouvir elogios como “beleza exótica” ou coisas do tipo.

Alguns até teriam “coragem” de colocar um filho no mundo. Porque, claro, com o que muitos sofrem hoje, alguns não desejariam isso para seus filhos.

Enfim, todo aquele tipo de coisa que gente como Bolsonaro e Mourão nunca tiveram problema. Pois eles são pessoas honestas que vivem em um país sem corrupção e, quem diria, sem racismo.