De repente estamos a viver em uma sociedade em que o critério da razoabilidade foi praticamente banido. A racionalidade do ser foi erradicada e o que tem prevalecido é a bestialidade humana, a intolerância, o ódio, a permanente incoerência.
No ar fica aquela sensação, para muitos, de que o exercício da barbárie satisfaz de forma prazerosa a uma camada da sociedade, ávida para impor sua filosofia, a partir das bolhas de raciocínio uniforme, longe das diferenças de pensamento, de gênero, raças e princípios éticos.
A vertente em voga é tão maléfica que no convívio social de agora, o dito “cidadão de bem”, com interesses contrariados, posa de policial, delegado, promotor, juiz e carrasco da sociedade, sem pestanejar. E muitos com um terço na mãos e a guilhotina na mente.
É o cruz-credo dos dias atuais.
As ideias preconcebidas e o apetite insaciável pelas notícias falsas estabelecem um roteiro que fortalece esse segmento de irracionalidade, sem considerar dados e pensamentos não alinhados. Pelo contrário, esses são postos à margem, rotulados como lepra no viés preconceituoso e discriminatório.
No centro dessa confusão mental que tomou conta de grande parcela da humanidade segue a mídia completamente atordoada – com raríssimas exceções – em meio à preguiça intelectual.
O que se percebe, portanto, é que esse novo mundo cultuado nas redes criou também o ensimesmamento ideológico que tomou conta da nossa mídia, cujo único compromisso, principalmente no campo digital, é o de ser visto por um público cada vez maior.
Não há questionamentos, há apenas necessidades de cliques e compartilhamentos de conteúdos bizarros, mas interessante para essas bolhas que estão a determinar por onde devem seguir os veículos nossos de cada instante.
Ainda assim, não há por que chutar o pau da barraca. Há, em meio a essa explosão da desonestidade intelectual, homens e mulheres que pensam. E por isso mesmo precisam estar mais atentos, e cada vez mais, para pensarem o amanhã com o foco no bem de todos. Isso não é um utopia. É uma necessidade real.
Trata-se de um desafio e tanto no mundo em que o diálogo e o debate sensatos foram, praticamente, defenestrados pela ausência de consensos e pelos recheados desvios de pensamentos.
Diante desse tormento cruel para todos nós que militamos nesse meio midiático, resistir é preciso.
Mas, que não percamos a ternura.