Em meio à poluição sonora da cidade (ao estresse das eleições), e à correria do cotidiano, o Projeto da Harmônica, uma iniciativa do maestro Rodrigo Andrade, profissional reconhecido no meio acadêmico e musical alagoano, vem atraindo pessoas, de diferentes idades, para atividades de musicoterapia, no Espaço Ciência, em Maceió.
Andrade é mestre em ensino da saúde pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), tem pós-graduação em regência coral, pela Unasp, e em musicoterapia pelo Conservatório Brasileiro de Música do Rio de Janeiro. Deixou sua marca como regente de corais em órgãos do Judiciário alagoano, no Hospital do Coração, no Sindicato da Previdência e (Uncisal/AL) e no projeto de extensão Maracatu Ganga Zumba.
O maestro também é professor de uma disciplina que trata da música e suas aplicabilidades na saúde, na Universidade Estadual de Ciências da Saúde (Uncisal). Por seu profissionalismo, recebeu vários prêmios em Alagoas, um deles, a Comenda Heitor Villa Lobos, da Câmara Municipal de Maceió. No intervalo de uma prática de musicoterapia, ele concedeu uma rápida entrevista para o Blog sobre musicoterapia e o Projeto Vida Harmônica.
Blog – Musicoterapia é tudo isso mesmo que se canta aos quatro ventos?
Maestro – Claro que sim, porque a música pode prevenir depressão, auxiliar as pessoas com alguma dificuldade de comunicação, a exemplo da timidez, promovendo autoconfiança, satisfação, prazer, lazer, incentivando novas descobertas, autoconhecimento.
Blog – A ligação entre música e saúde não é bem uma novidade, não é mesmo?
Maestro – Verdade. A música é uma manifestação de praticamente todas as culturas ao redor do mundo, extremamente importante para as sociedades, tanto na sua função de expressão artística, de opinião, comunicação entre os povos, assim como, na função de promoção à saúde, seja ela física ou mental. Se formos pesquisar, perceberemos que, ao longo da história da humanidade, há diversas manifestações de cuidado com à saúde, por meio da música, desde a cultura xamânica, até a medicina oriental. E, hoje, em todo o mundo, a gente vê a ciência médica desenvolvendo e descobrindo cada vez mais recursos na área da música. Há inclusive pesquisas e trabalhos publicados que revelam da importância da musicoterapia enquanto ciência.
Blog – Como anda essa discussão da musicoterapia enquanto ciência, no Brasil?
Maestro – No Brasil, essa discussão pode ser acompanhada nas publicações da Revista da Associação Brasileira de Musicoterapia , que reúne pesquisas extremamente importantes no que se refere à saúde mental, sobretudo na recuperação de pessoas em estado depressivo, de pacientes com paralisia cerebral, em reabilitação neurológica, tendo ocorrido casos de neuroplasticidade, com o paciente reorganizando a função do cérebro, a partir de áreas que estão sãs. Pessoas com síndrome de down, transtorno do espectro autista, paralisias (de um membro ou mais) ou com dificuldade de locomoção podem ser bastante auxiliados em sua reabilitação por meio do ritmo musical e a aplicação das técnicas da musicoterapia.
Blog – O senhor pode relatar alguma experiência bem sucedida de aplicação da musicoterapia, durante suas vivências?
Maestro – Um caso que me impressionou bastante foi o de uma senhora que viveu isolada, por meses, em seu apartamento, após presenciar a morte trágica do filho e, quando estimulada, por meio das práticas de musicoterapia, passou a participar de canto coral. Isso trouxe um novo ânimo e vontade de retomar suas atividades.
Blog – Na prática, como funciona o Projeto Vida Harmônica?
Maestro – Temos uma primeira turma já formada, que funciona às sextas-feiras, e outras em formação. A atividade inclui meditação, teoria musical e a aplicação de técnicas de musicoterapia. Uma delas é a técnica de composição assistida, de criação musical. Muitas pessoas pensam que não podem criar, mas, por meio da musicoterapia, há recursos que tornam esse processo muito simples e auxiliam a pessoa a elevar a autoestima. Aliás, a autoestima em baixa é um fator desencadeador de depressão.
Blog – É possível pensar na musicoterapia como instrumento para harmonia coletiva?
Maestro – Muito mais que imaginamos. Hoje, nossa sociedade precisa disso, pois estamos cada vez mais descontruídos. Não sabemos quem somos e para onde vamos enquanto sociedade. Precisamos pensar nos nossos valores. E, seguramente, a experiências proporcionadas pelas técnicas de musicoterapia ajudam os participantes a resignificar memórias do passado, projetar para o futuro expectativas, sonhos, encontrar-se, definir-se.
Em tempo, para saber mais detalhes sobre o Projeto Vida Harmônica, é só entrar em contato pelo WhasApp (82) 9 8887-8090/ 9 8885-9855