O desembargador de SC Jorge Luiz Borba informou que vai adotar a mulher surda e muda em condições análogas à escravidão na casa dele, há 20 anos. A situação já é investigada pela Polícia Federal.
Através de nota, ota assinada por ele, sua esposa e os quatro filhos, a família teria ficado “surpresa” pelo difundido sugestionamento” de que estariam deixando uma mulher em situação análoga à escravidão.
A denúncia do MPF aponta que ela seria vítima de maus-tratos, em decorrência das condições materiais em que vivia e da negativa dos investigados em prestarem qualquer assistência à saúde.
Borba já havia negado o crime e afirmado que a mulher foi acolhida como “um ato de amor”. Na terça-feira (6), o desembargador disse que ela “sempre recebeu tratamento igual ao dado” aos seus filhos. Ele é desembargador do TJSC (Tribunal de Justiça de Santa Catarina) há mais de 15 anos.
Borba disse também que a filha, que é médica, e amigos atendiam Sônia quando ela precisava de cuidados de saúde. Ele relatou que começou a pagar plano de saúde para a mulher em 2021.
Denúncia
A investigação começou após uma denúncia anônima, em novembro de 2022, que reportava a existência de uma trabalhadora sem direitos trabalhistas, segundo o auditor-fiscal Humberto Camasmie.
O MPT (Ministério Público do Trabalho) fez diligências, conversou com trabalhadoras que atuaram na residência por diferentes períodos e confirmou a denúncia.
Três funcionárias que trabalham atualmente para o desembargador foram ouvidas e disseram a auditores do Trabalho que Sônia não era obrigada a fazer os trabalhos domésticos, sempre almoçava com os patrões e tinha quarto próprio dentro da casa principal. Versão diferente da apontada pelas ex-funcionárias.
Uma cuidadora que trabalhou na casa do desembargador Jorge Luiz Borba, suspeito de manter uma mulher surda e muda em condições análogas à escravidão, afirmou que a mulher era como uma “escravinha” na casa.
Em depoimento, a ex-funcionária, contratada entre 2020 e 2021, afirmou que os cachorros da família eram mais bem cuidados do que Sônia, que fazia as refeições com os funcionários e “sempre” depois dos patrões.
A mesma ex-colaboradora relatou às autoridades que Sônia levava uma vida de empregada doméstica, sem receber salário. A testemunha contou ainda que a suposta vítima dormia em um quarto nos fundos da casa e que deu banho em Sônia pois ela sofria de assadura embaixo dos seios porque não tinha sutiã.
Uma ex-faxineira, que trabalhou na casa entre 2015 e 2016, definiu Sônia como “mucama” (escravizadas que faziam serviços domésticos).
Uma ex-diarista ouvida também confirmou as denúncias sobre o caso. Ela disse que via Sônia como uma trabalhadora, que não era da família, já que as filhas do desembargador têm tudo, e Sônia não tinha.