25 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Maceió

Dona de escola pede ‘chicote do bom’ para fazer ‘professora lembrar do tempo que tanto teme’

Acusada disse não ser racista, pois ‘tem empregadas negras que comem na mesma mesa e são consideradas da família’

texto atualizado na tarde de quarta

Uma professora do Colégio Agnes, localizado no bairro do Trapiche da Barra em Maceió, foi vítima de racismo por parte da diretora e dona do próprio colégio, na manhã desta terça (4). A denúncia é do Coletivo União da Letras, que publicou uma nota de repúdio no final da noite do mesmo dia.

Thaynara Cristina Silva, 25, estava dando aula em uma turma do 3º ano do ensino médio, onde estavam aproximadamente 50 alunos com idade entre 15 e 18 anos, quando a diretora entrou exaltada. Ela dizia que a professora foi responsável por um acidente de trânsito envolvendo o filho dela durante uma discussão por telefone – ele dirigia enquanto digitava no Whatsapp.

A dona da escola então cometeu o racista na sala de aula, dando a entender que seria bom:

“Se alguns dos alunos, que estavam presentes em sala, fossem à Ouro Branco, trouxessem um chicote ‘do bom’ para fazer a professora lembrar do tempo que ela tanto teme”. Diretora e dona do Colégio Agnes.

Neste momento, alguns dos estudantes, que ficaram do lado da professora, estavam chorando. Ela saiu da sala também para chorar.

“Quando cheguei na sala dos professores, ela trancou a porta e me disse que tudo não passava de brincadeira. Que tinha uma empregada negra que comia na mesa da família porque era como se fosse da família. Em seguida, completou dizendo que não era racista porque havia me contratado como professora, não optando por uma professora branca para a função”. Thaynara Cristina Silva, professora.

Após a repercussão negativa, o perfil oficial do Colégio fez uma postagem repudiando a ação da própria dona da escola. Mas esta, logo depois, foi deletada:

A nota do Coletivo, no entanto, ainda está no ar. E acusa a dona da escola de ter cometido o crime de racismo e ter humilhado a professora publicamente quando, sem ética, invadiu sua sala de aula. A professora é integrante do Coletivo União da Letras.

Confira a postagem da nota de repúdio na íntegra:

 

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O Coletivo União da Letras vêm através desta repudiar a ação racista e antiética cometida contra a professora Taynara Cristina, na manhã desta terça-feira (04 de fevereiro), no Colégio Agnes, localizado no bairro do Trapiche da Barra em Maceió. . A dona da escola atacou Taynara com um comentário completamente racista ao pedir que “se alguns dos alunos, que estavam presentes em sala, fossem à Ouro Branco, trouxessem um chicote ‘do bom’ para fazer a professora lembrar do tempo que ela tanto teme”. Sim! foi exatamente o que a dona do Colégio Agnes falou, dentro de uma sala cheia de alunos. . Nós do Coletivo repudiamos essa e qualquer atitude racista! A dona da escola, além de ter cometido um crime e humilhado a professora publicamente, agiu sem nenhuma ética, invadindo sua sala de aula, lugar onde isso jamais deveria acontecer. Taynara, além de uma grande profissional, é integrante do Coletivo União das Letras e luta todos os dias dentro e fora da sala de aula para que atitudes como essa não possam ser vistas como “normais”. Estamos com você, Taynara! Racistas não passarão! Queremos justiça! Convocamos todos e todas para um ato amanhã na porta escola contra o racismo estrutural! E em solidariedade a nossa companheira! #agnesracista @colegioagnes

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O mesmo grupo convocou ainda um ato na manhã desta quarta (5), na porta da escola, contra o racismo estrutural:

OAB

A Ordem dos Advogados do Brasil Alagoas, através da Comissão de Direitos Humanos, Comissão de Promoção da Igualdade Social e Comissão Especial da Mulher, manifesta apoio à professora Taynara Cristina, vítima de injúria racial em uma escola, no Trapiche da Barra, em Maceió.

Os presidentes das comissões citadas já entraram em contato com a professora e declararam apoio pessoalmente, além de acompanha-la em depoimento na Delegacia de Polícia.

É inaceitável que atos discriminatórios e racistas continuem sendo praticados. Preconceito e segregação não podem mais ser tolerados. Nota da OAB.