29 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
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“É política”: Secretário Ricardo Santa Ritta acertou em alguns pontos na polêmica da Copa América

Realização de outros campeonatos no Brasil abre espaço para quem defende o país sediar o torneio internacional da Conmebol

Cancelada na Argentina por causa da gravidade da pandemia, a Conmebol fez o pedido e Jair Bolsonaro deu sinal verdade para a realização da Copa América no Brasil.

Decisão essa que veio com críticas, seja da oposição ao governo, imprensa nacional e internacional ou mesmo jogadores que vão disputar o torneio. O próprio governador Renan Filho disse que este seria um violento equívoco por parte da CBF.

A afirmação do governador Renan Filho, feita na manhã desta terça, aconteceu horas depois do secretário de Turismo, Esporte e Lazer de Maceió, Ricardo Santa Ritta, vislumbrar a possibilidade de tornar Maceió uma cidade-sede.

A posição, claro, não poderia deixar de vir sem polêmica. Como justificar a chegada de um torneio internacional, durante uma pandemia, motivo esse que levou o país original a desistir da realização do evento?

Ricardo Santa Ritta ponderou que o futebol não parou no país e que um torneio a mais não faria mal. Na verdade, lutar contra ele seria uma questão política.

Claro, a decisão não poderia ser contextualizada de outra forma, que não política. No cenário de pandemia, é preocupante o governo brasileiro levar poucas horas para responder o pedido da CBF, ao contrário do parto de 9 meses que foi a negociação com a Pfizer por vacinas.

A decisão de receber a Copa América pode piorar os números da Covid-19 e acelerar a 3ª onda no Brasil. Mas Santa Ritta tocou num ponto certo: diferente do ano passado, o futebol no Brasil praticamente não parou.

No início da pandemia, em todo o mundo houve uma paralisação para países se readequarem com novos protocolos de segurança e não houve muita diferença no Brasil, que suspendeu estaduais e adiou torneios nacionais.

A questão muda de ponto quando as comparações são mais recentes: enquanto outros países retomaram a pleno vapor a prática de torneios esportivos, graças à melhora nos protocolos e também vacinação (já há eventos com torcidas no estádio), o Brasil tenta passar o mesmo sinal de tranquilidade, recebendo todos os torneios possíveis de futebol, sem melhorar seus protocolos ou vacinar em grande escala.

Santa Ritta deu os números: 124 clubes nas quatro divisões nacionais, viajando normalmente com suas delegações em todas as regiões. Na Libertadores da América há menos clubes, mas são 8 times brasileiros viajando para o exterior e muitos outros cruzando a fronteira para jogarem por aqui.

O que seria diferente com a Copa América no Brasil?

A diferença realmente talvez seja política. Que envolve diplomacia e melhor toque e tato ao discutir tópicos como este. E talvez Santa Ritta tenha passado do ponto. Com Maceió servindo de modelo nacional por seu esquema de vacinação, falar em “morrer da mente” e criticar o “fecha tudo e abre nada” cria um ruído desnecessário. E frio.

Sim, a Globo exibe praticamente todos os torneios nacionais. E assim como ficou de fora dos direitos da Libertadores, também não detém os da Copa América, ambos no SBT. SBT que é de propriedade de Silvio Santos, curiosamente, sogro do ministro das Comunicações, Fabio Faria.

Este pode ter sido o motivo alguns dos mais ilustres narradores da Rede Globo, como Galvão Bueno e Luís Roberto, abertamente criticarem o Brasil sediar este torneio. Seja por interesse político ou comercial (quando os dois não se cruzam?), as críticas veladas não se repetem com tanta ênfase sobre os estaduais e nacionais exibidos na emissora carioca.

E neste ponto Santa Ritta está certo: se a crítica veio pesada pelo desejo de sediar o torneio, que critiquemos a manutenção como está do restante dos torneios no Brasil.

Da mesma forma, é importante questionar também como um governo tão desorganizado conseguiria realizar, em tão pouco tempo, os protocolos de segurança para a realização do torneio que nem cidades-sede definida ainda tem. Maceió, como disse Santa Ritta, seria carta fora por estar em um estado “símbolo do atraso”.

Também é bom perguntar: porque o governo Federal respondeu tão rápido a Conmebol nesse cuestão, se comparado com os longos meses de silêncio para a Pfizer?

Não é preto no branco. Nunca é. Especialmente quando mais de 450 mil pessoas morreram e outros milhares (ou milhões) estão enlutados. Não é apenas futebol. Nunca foi.