Cancelada na Argentina por causa da gravidade da pandemia, a Conmebol fez o pedido e Jair Bolsonaro deu sinal verdade para a realização da Copa América no Brasil.
Decisão essa que veio com críticas, seja da oposição ao governo, imprensa nacional e internacional ou mesmo jogadores que vão disputar o torneio. O próprio governador Renan Filho disse que este seria um violento equívoco por parte da CBF.
A afirmação do governador Renan Filho, feita na manhã desta terça, aconteceu horas depois do secretário de Turismo, Esporte e Lazer de Maceió, Ricardo Santa Ritta, vislumbrar a possibilidade de tornar Maceió uma cidade-sede.
Em suma, se for contra a @CONMEBOLBR fazer a Copa América no Brasil 🇧🇷
Então bora parar o Campeonato Brasileiro de Futebol. Não vi ninguém pedindo paralisação de torneio regional ou estadual de futebol.
Lembro que todas as outras modalidades estão sem competição nacional.— Ricardo Santa Ritta (@RicardinhoSR) May 31, 2021
A posição, claro, não poderia deixar de vir sem polêmica. Como justificar a chegada de um torneio internacional, durante uma pandemia, motivo esse que levou o país original a desistir da realização do evento?
Ricardo Santa Ritta ponderou que o futebol não parou no país e que um torneio a mais não faria mal. Na verdade, lutar contra ele seria uma questão política.
👉🏻 Campeonato Brasileiro/ Séries A, B, C e D. 124 clubes cruzando o país de ponta a ponta. ✅
➖ Ah! Mas Copa América os jogadores vem de outros pais…
👉🏻 Libertadores : 32 clubes das Américas, 8 brasileiros. Cruzando fronteiras. ✅
➖ Copa América ❌
Não é futebol, é Política— Ricardo Santa Ritta (@RicardinhoSR) June 1, 2021
Claro, a decisão não poderia ser contextualizada de outra forma, que não política. No cenário de pandemia, é preocupante o governo brasileiro levar poucas horas para responder o pedido da CBF, ao contrário do parto de 9 meses que foi a negociação com a Pfizer por vacinas.
A decisão de receber a Copa América pode piorar os números da Covid-19 e acelerar a 3ª onda no Brasil. Mas Santa Ritta tocou num ponto certo: diferente do ano passado, o futebol no Brasil praticamente não parou.
No início da pandemia, em todo o mundo houve uma paralisação para países se readequarem com novos protocolos de segurança e não houve muita diferença no Brasil, que suspendeu estaduais e adiou torneios nacionais.
A questão muda de ponto quando as comparações são mais recentes: enquanto outros países retomaram a pleno vapor a prática de torneios esportivos, graças à melhora nos protocolos e também vacinação (já há eventos com torcidas no estádio), o Brasil tenta passar o mesmo sinal de tranquilidade, recebendo todos os torneios possíveis de futebol, sem melhorar seus protocolos ou vacinar em grande escala.
Santa Ritta deu os números: 124 clubes nas quatro divisões nacionais, viajando normalmente com suas delegações em todas as regiões. Na Libertadores da América há menos clubes, mas são 8 times brasileiros viajando para o exterior e muitos outros cruzando a fronteira para jogarem por aqui.
O que seria diferente com a Copa América no Brasil?
E vai morrer mais gente. Infelizmente. Com “fecha tudo” e “abre nada”.
Vai morrer de Covid, de infarto, de diabetes, homicídio, depressao, hipertensão… de Covid também, e novamente do coração, da mente. Infelizmente! Não há como impedir. Todo lugar do mundo morreu gente.— Ricardo Santa Ritta (@RicardinhoSR) May 31, 2021
A diferença realmente talvez seja política. Que envolve diplomacia e melhor toque e tato ao discutir tópicos como este. E talvez Santa Ritta tenha passado do ponto. Com Maceió servindo de modelo nacional por seu esquema de vacinação, falar em “morrer da mente” e criticar o “fecha tudo e abre nada” cria um ruído desnecessário. E frio.
Sim, a Globo exibe praticamente todos os torneios nacionais. E assim como ficou de fora dos direitos da Libertadores, também não detém os da Copa América, ambos no SBT. SBT que é de propriedade de Silvio Santos, curiosamente, sogro do ministro das Comunicações, Fabio Faria.
Este pode ter sido o motivo alguns dos mais ilustres narradores da Rede Globo, como Galvão Bueno e Luís Roberto, abertamente criticarem o Brasil sediar este torneio. Seja por interesse político ou comercial (quando os dois não se cruzam?), as críticas veladas não se repetem com tanta ênfase sobre os estaduais e nacionais exibidos na emissora carioca.
E neste ponto Santa Ritta está certo: se a crítica veio pesada pelo desejo de sediar o torneio, que critiquemos a manutenção como está do restante dos torneios no Brasil.
Da mesma forma, é importante questionar também como um governo tão desorganizado conseguiria realizar, em tão pouco tempo, os protocolos de segurança para a realização do torneio que nem cidades-sede definida ainda tem. Maceió, como disse Santa Ritta, seria carta fora por estar em um estado “símbolo do atraso”.
Queria dizer aos amigos de Alagoas. Não se preocupem. Em nenhum momento a CBF cogitou o estado para o torneio. Somos símbolo do atraso, ainda.
Mas breve sairemos desse marasmo. Espero! 🙏🏻— Ricardo Santa Ritta (@RicardinhoSR) June 1, 2021
Também é bom perguntar: porque o governo Federal respondeu tão rápido a Conmebol nesse cuestão, se comparado com os longos meses de silêncio para a Pfizer?
Não é preto no branco. Nunca é. Especialmente quando mais de 450 mil pessoas morreram e outros milhares (ou milhões) estão enlutados. Não é apenas futebol. Nunca foi.