Eduardo Bolsonaro: fuga para os EUA ou estratégia política?

A decisão de se licenciar do mandato e se mudar para os Estados Unidos reflete mais uma tentativa de vitimização e radicalização da família Bolsonaro do que uma verdadeira preocupação com a segurança
Eduardo Bolsonaro | Reprodução/Internet

O anúncio de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) de que se licenciará do seu mandato e se mudará para os Estados Unidos não é apenas uma surpresa, mas uma decisão que expõe as tensões políticas internas do Brasil e revela a estratégia do deputado para escapar de um cenário cada vez mais complicado.

Ao alegar que “não é seguro voltar ao Brasil”, Eduardo adota uma narrativa de perseguição que, embora já esperada por muitos, parece mais uma tentativa de vitimização do que uma preocupação real com a segurança. Essa atitude não só reflete sua fragilidade política, mas também reforça a postura de quem busca apoio externo, especialmente de um governo com o qual compartilha ideologias extremistas, como o de Donald Trump.

A justificativa de que se licenciar do mandato é um sacrifício “difícil” soa mais como um discurso ensaiado para justificar sua saída do que uma decisão genuína movida por preocupações legítimas.

O que fica claro é que, diante das investigações e do crescente isolamento político dentro do Brasil, Eduardo busca se proteger e continuar sua luta política contra o governo Lula, agora fora das fronteiras do país. A estratégia de tentar buscar apoio internacional para a anistia dos envolvidos no 8 de janeiro e para uma ação mais agressiva contra ministros do STF como Alexandre de Moraes é um reflexo da aposta na radicalização e no fortalecimento de laços com a extrema direita global.

Entretanto, o discurso de perseguição e de luta contra o que chamam de “nazifascismo” no Brasil, reforçado por seu pai e outros aliados, está distante da realidade enfrentada por grande parte da população brasileira, que se preocupa com questões muito mais urgentes, como a desigualdade social e a crise econômica. Ao se afastar do debate interno e se refugiar nos Estados Unidos, Eduardo mostra uma falta de compromisso com as verdadeiras necessidades do país, priorizando seus próprios interesses políticos e familiares.

Ouvidos pelo portal Brasil de Fato, aliados e opositores na Câmara reagiram com críticas ácidas. Deputados como Chico Alencar (Psol-RJ) e Arlindo Chinaglia (PT-SP) não escondem o ceticismo quanto à verdadeira motivação de Eduardo, tratando sua decisão como uma tentativa de criar uma narrativa de perseguição para justificar uma fuga política. Para muitos, a verdadeira fraqueza de Eduardo está em sua incapacidade de dialogar com a realidade política do Brasil, e sua postura, ao contrário de fortalecer sua imagem, acaba apenas por enfraquecê-la.

O movimento também revela a falta de alinhamento dentro do próprio partido de Eduardo. A tentativa frustrada de assumir a presidência da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, que poderia garantir uma aproximação maior com o governo dos EUA, é mais um sinal de que sua influência dentro do PL está em declínio. O fato de o próprio Valdemar Costa Neto ter barrado essa indicação demonstra que até dentro da extrema direita brasileira há divergências e medos de implicações mais amplas com o STF.

Portanto, a decisão de Eduardo Bolsonaro é, ao mesmo tempo, um reflexo de sua impotência política interna e uma estratégia de se reposicionar no cenário internacional. Para a maioria da população brasileira, que vive a realidade de um país polarizado e em crise, o afastamento do deputado e sua busca por apoio estrangeiro são vistos como uma tentativa de escapar das responsabilidades que sua família e ele ajudaram a criar. Esse gesto, longe de ser um sacrifício heróico, parece mais uma fuga do combate político no Brasil, para continuar alimentando um discurso de ódio e divisão, agora do conforto do exterior.

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