19 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Estudo vai criar registro nacional da síndrome do coração partido

São mais de 300 mil óbitos por ano, o que configura um problema de saúde pública, agravado agora pela pandemia do novo coronavírus

A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) iniciou estudo inédito para a criação de um registro nacional sobre a síndrome de Takotsubo, também conhecida como síndrome do coração partido. Serão avaliados pacientes que tiveram essa doença antes e durante a pandemia do novo coronavírus.

O presidente do Departamento de Insuficiência Cardíaca e coordenador da Universidade do Coração da SBC, Evandro Tinoco Mesquita, disse que a síndrome é decorrente de uma agressão ao músculo do coração, que ocorre de forma direta ou indireta, por meio da inflamação do órgão.

É um problema raro, que provoca sintomas semelhantes aos de um infarto, como dor no peito, falta de ar ou cansaço, que podem surgir em períodos de estresse emocional intenso. A síndrome, definida ainda como cardiomiopatia por estresse, tem perfil desconhecido no país e foi descrita pela primeira vez no Japão, em 1990.

“As pessoas podem ter um dano temporário do coração e isso, particularmente, acomete as mulheres no período da menopausa. Acomete mais frequentemente, em quase 90% dos casos, pessoas ao redor de 65 a 70 anos de idade. E, ocasionalmente, pode gerar uma repetição. Ou seja, a pessoa ter mais de uma vez”. Evandro Tinoco Mesquita, presidente do Departamento de Insuficiência Cardíaca e coordenador da Universidade do Coração da SBC.

De uma forma muito grave, a doença pode levar a um quadro de falência do coração, um edema de pulmão, ou a um quadro de arritmia, e levar à morte súbita.

A síndrome do coração partido foi definida pela American Heart Association como uma cardiomiopatia adquirida primária, e é responsável por 1% a 2% dos casos de síndrome coronariana aguda, que consiste em qualquer grupo de sintomas atribuídos à oclusão das artérias coronárias.

Geralmente, a pessoa que apresenta este tipo de cardiomiopatia tem início súbito de insuficiência cardíaca congestiva, juntamente com forte dor no peito e alterações no eletrocardiograma que sugerem infarto do miocárdio.

Causas da síndrome do coração partido:

  • Morte inesperada de um familiar ou amigo
  • Ser diagnosticado com uma doença grave
  • Perder uma grande quantidade de dinheiro
  • Ser separado da pessoa amada, através de divórcio, por exemplo.
  • Estas situações provocam um aumento da produção de hormônios do estresse no organismo, que podem gerar contração de alguns vasos cardíacos, lesando o coração.

Sintomas da síndrome do coração partido:

  • Aperto no peito
  • Dificuldade para respirar
  • Tonturas e vômitos
  • Perda de apetite ou dor no estômago
  • Raiva, tristeza profunda ou depressão
  • Dificuldade para dormir
  • Cansaço excessivo
  • Perda de autoestima, sentimentos negativos ou pensamento suicida

Normalmente, estes sintomas surgem após uma situação de grande estresse e podem desaparecer sem tratamento. No entanto, caso a dor no peito seja muito forte ou o paciente tenha muita dificuldade para respirar, é recomendado ir ao pronto socorro para fazer exames, como eletrocardiograma e exames de sangue, para avaliar o funcionamento do coração.

Radiografia

O cardiologista argumentou que o novo coronavírus promove uma inflamação sistêmica que afeta o coração. Também o estresse provocado pelo vírus pode tornar pacientes internados mais vulneráveis a isso.

Na avaliação do coordenador da Universidade do Coração da SBC, a radiografia, que será feita pela entidade, é importante porque revelará forma e fatores estressores variados que podem provocar a síndrome do coração partido nas diferentes regiões do país.

O registro vai apurar também o resultado da qualidade do atendimento, a mortalidade que pode ser diferente, bem como a taxa de recorrência.

“A radiografia vai nos ajudar a identificar quais são os diferentes tipos de indivíduos mais acometidos, melhorar o grau de alerta e o cuidado, se for observada alguma discrepância de resultados na qualidade do atendimento inicial”. Evandro Tinoco Mesquita.

A partir disso, será possível identificar fatores de possível intervenção, “ou seja, como a gente pode estar protegendo ou desenvolvendo estratégias, com novas pesquisas, para amenizar esse impacto”.

Tinoco informou que a síndrome vem sendo descrita há poucas décadas. O registro nacional será o primeiro texto no Brasil e um dos pioneiros na América Latina. Ele servirá para gerar dados que permitirão traçar estratégias comportamentais para ajudar na prevenção da doença.

Números

O objetivo do estudo iniciado pela SBC para conhecer o perfil da síndrome é o fato de haver no Brasil 14 milhões de pessoas com doenças cardiovasculares, que respondem por mais de 30% das mortes no país.

Segundo a SBC, são mais de 300 mil óbitos por ano, o que configura um problema de saúde pública, agravado agora pela pandemia do novo coronavírus.

Do total de doentes cardiovasculares que chegam aos hospitais com suspeita de infarto, entre 1% e 2% podem ter a síndrome do coração partido, admitiu Mesquita.