18 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
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Ex-trabalhadores da OAM têm hoje um dia decisivo

Era uma sexta-feira, em novembro de 2018. Dia de fechar a edição de fim de semana da Gazeta de Alagoas. A outrora pulsante redação estava quase vazia no meio da noite, uma heresia para qualquer veículo de comunicação! Entre os poucos colegas no local, o pressentimento não era bom. Algo sinistro estava por vir…

Como editor-adjunto do Caderno de Cidades (que saudade de trabalhar ao lado da colega Cristina Limeira, com quem aprendi muito), a gente fechava as manchetes da capa que, estranhamente, tinha um espaço vazio.

O que seria publicado ali? Mesmo com grandes suspeitas, no dia seguinte, o choque: naquele local havia uma mensagem do senador Fernando Collor, proprietário da empresa, anunciando que o jornal, com mais de 80 anos de tradição, se tornaria semanal.

Na segunda-feira pela manhã, por telefone ou por mensagem no grupo de WhatsApp, fomos convocados para uma reunião na redação, já sabendo o que nos aguardava. Ao chegarmos, o primeiro sinal: nossos logins estavam todos cancelados, ou seja, nossos acessos aos computadores já estavam devidamente bloqueados.

Praticamente toda a redação estava demitida, exceto alguns nomes. Para aumentar a angústia, Luiz Amorim, o número 1 da Organização Arnon de Mello (OAM), disse que os “sobreviventes” receberiam uma ligação nos próximos dias, o que chamamos de “big fone”, numa alusão ao quadro do Big Brother.

Enfim, tiveram prioridade aqueles que só tinham um emprego. Os demais que esperassem o chamado da empresa para receber as rescisões trabalhistas. Como a situação financeira da organização não era boa, a gente receberia em parcelas. Os acordos foram fechados, homologados na Justiça do Trabalho e nunca cumpridos.

Quando a Justiça estava prestes a começar a agir, leiloando bens para pagar dívidas do conglomerado, a OAM lança a cartada da recuperação judicial. Deu certo.

O processo iniciado em 2019, que deveria durar dois anos, terá sua primeira audiência nesta terça (12), com todo o jogo a favor da empresa – a ineficiência do Judiciário, a inércia do Sindicato dos Jornalistas e do Ministério Público foram fatores decisivos para Collor & Cia nadarem de braçada sobre a dignidade dos trabalhadores, chegando a fechar acordos extrajudiciais humilhantes.

Além dos demitidos do jornal, estão na fila aqueles profissionais que foram dispensados após a histórica greve dos jornalistas e sob outras circunstâncias. Incluam na lista de credores os prestadores de serviço que não foram remunerados e amargam prejuízos. Todos querem receber.

Agora, perto dos acréscimos, a categoria dos trabalhadores começou a se mobilizar. Tenta virar um jogo em que sempre esteve no prejuízo, contra tudo e todos. O resultado desta primeira assembleia de credores agora é uma incógnita.

Porque nessa situação, a “classe operária” vai ter que se superar e muito se quiser receber um valor justo pelos anos de dedicação à empresa. Com o desemprego galopante, a fome e as contas para pagar, será que a classe trabalhadora vai conseguir resistir? A tática de Collor e aliados, dificilmente, falha.