22 de março de 2025Informação, independência e credibilidade
Política

Fantástico mostra áudios inéditos de golpistas militares e civis

PF apreendeu 1,2 mil equipamentos eletrônicos dos envolvidos na trama e extraiu 255 milhões de mensagens de áudio e vídeo.

O Fantástico deste domingo (23) exibiu uma reportagem especial, com acesso exclusivo a áudios inéditos que expõem os bastidores de uma trama golpista.

A PF apreendeu 1,2 mil equipamentos eletrônicos dos envolvidos na tentativa de golpe de estado e conseguiu extrair 255 milhões de mensagens de áudio e vídeo. Os peritos federais elaboraram 1.214 laudos que, de acordo com a investigação, revelam as vozes do golpe.

Os arquivos, extraídos de celulares e computadores após apreensões e quebras de sigilo, mostram conversas entre envolvidos na tentativa de golpe de estado.

Para os investigadores da PF, os áudios revelam a participação de militares e civis no plano de tentar pôr fim à democracia brasileira. Confira a reportagem do Fantástico:

Tenente-coronel

O tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida, lotado no COTER – Comando de Operações Terrestres do Exército, foi flagrado falando o morte de Jair Bolsonaro, sobre “agir dentro da constituição”:

“A gente não sai das quatro linhas. Vai ter uma hora que a gente vai ter que sair. Ou então eles vão continuar dominando a gente”.

Ele e outros militares de alta patente mantinham canal aberto e contato direto com manifestantes. E apelavam para que os pedidos para proteger os manifestantes chegassem até o então presidente Jair Bolsonaro.

Isso mostra que a estratégia do grupo era manter as manifestações nas ruas e a contestação das urnas eletrônicas e que integrantes do alto escalão do governo Bolsonaro também agiram para pressionar os comandantes militares a aderir à ruptura institucional.

Dois áudios mostram a relação entre o general Mario Fernandes e manifestantes. Um deles pergunta até quando deveriam permanecer acampados. “Eu queria ver com o senhor aí, qual que é a perspectiva? Até quando vocês querem que a gente fique aqui, general”, diz um dos áudios enviado pelo caminhoneiro Lucas Durlo ao militar.

A ideia era convencer os manifestantes a ocupar o Congresso. “Não adianta protestar na frente do QG do Exército, tem que ir pro Congresso. E as Forças Armadas vão agir por iniciativa de algum Poder. (…) Todo mundo quer Forças Armadas por quê? Quer um mecanismo de pressão chamado arma, né?”, disse Marques de Almeida.

Damares

Mauro Cid, ajudante de Bolsonaro e principal delator, disse, em áudio, que tinha “cara infiltrado em tudo quanto é lugar”. “A gente tem cara infiltrado em tudo quanto é lugar. Monitorando e passando para a gente as informações. Refutando ou ajudando a instigar, digamos assim”, fala.

Cid também encaminhou para o tenente-coronel do Exército, Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros, o áudio de um suposto hacker do interior de São Paulo. O objetivo do hacker era desacreditar as urnas eletrônicas. Cavalieri é um dos 34 denunciados pela PGR.

“Logo que sair os arquivos TSE, vou pegar esses arquivos aí para ver o que dá para fazer. E vou buscar, agora, qual que é a inconsistência desse negócio aí. Mas a gente teria que encontrar alguém lá de cima, do governo, principalmente”, disse.

O suposto hacker chega a citar a atual senadora e então ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves (Republicanos-DF).

“Por coincidência, uma tia tá na mesma igreja da Damares, da ministra. Aí a Damares, ela escutou e passou um contato de uma assessora do Bolsonaro. De alguma forma, chamaram o pessoal da Abin, da Agência Nacional”, declarou.

Outro lado

A defesa do general Mario Fernandes disse que ainda não teve acesso completo ao conteúdo resultante das quebras de sigilo e que a denúncia apresenta apenas trechos desconexos. A mensagem também afirma que o general Mário Fernandes prestou relevantes serviços ao Brasil e demonstrará a sua inocência.

A defesa do tenente-coronel Mauro Cid disse que não vai se manifestar. A ex-ministra e atual senadora Damares Alves disse que não se recorda do episódio em que teria passado o contato de uma assessora do presidente Bolsonaro para apurar denúncias de fraudes na urna.