29 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Frente democrática contra Bolsonaro já é articulada no Congresso

Deputados até de partidos de diferentes espectros ideológico defendem a necessidade de se deixarem de lado as diferenças políticas e se unirem

A paciência também se esgotou nos outros poderes. Após mais um fim de semana com pró-fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF) e em defesa de intervenção militar, o Parlamento reagiu e já vai criando forma a ideia de criação de uma ampla frente democrática.

Deputados de vários partidos, até mesmo de diferentes espectros ideológicos, defendem a necessidade de se deixarem de lado as diferenças políticas e se unirem para evitar a implantação de uma ditadura no país. Ameaça essa que eles cada vez mais enxergam nos atos do presidente Jair Bolsonaro e seus aliados.

Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, não participa diretamente, mas já manifestou a deputados sua simpatia pela ideia. Apesar de ser atacado constantemente por Bolsonaro, Maia evita o confronto e prega diálogo e respeito à democracia.

Ainda assim, parlamentares de diferentes correntes começam a se organizar para discutir a criação de uma frente democrática nos próximos dias. Lideranças do PT, do PSDB e do MDB têm indicado apoio à iniciativa.

O entendimento em comum entre parlamentares é de que esse tipo de movimento já partiu da sociedade civil, como demonstraram o ato pró-democracia encampado por torcidas organizadas de clubes de futebol rivais e a publicação de manifestos assinados por juristas, políticos, intelectuais e artistas neste fim de semana.

Partidos

Segundo a líder do PCdoB, Perpétua Almeida (AC), nessa aliança cabem parlamentares de esquerda, centro e direita. “Só não cabem os fascistas. Ou nos unimos ou o fascismo de Bolsonaro avançará”, afirmou.

“Estados Unidos e União Soviética se uniram contra o nazismo. Temos de dialogar com quem pensa diferente da gente, mas está conosco no campo democrático”. Perpétua Almeida (AC), líder do PCdoB.

O deputado Marcelo Ramos (PL-AM) considera urgente a união dos parlamentares em defesa das instituições democráticas e contra o avanço do autoritarismo.

“O Congresso precisa se afastar de qualquer flerte com o autoritarismo e isso deve ser uma mensagem forte para o Centrão, que não deve fortalecer um projeto que tem como fim fechar ou pelo menos limitar o Congresso e o STF”. Marcelo Ramos (PL-AM).

Para o líder do PT, Enio Verri (PR), há clima no Congresso para a construção de uma frente com o mesmo perfil dos que se manifestaram em defesa da democracia no fim de semana, entre eles, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o ex-candidato à Presidência pelo PT Fernando Haddad e personalidades como Caetano Veloso e Fernanda Montenegro.

“Divergimos muito do ponto de vista econômico do centro e da centro-direita. Mas votamos muitas vezes juntos quando se trata da defesa dos direitos humanos. A sociedade já começou esse movimento que lembra o Diretas Já. O Congresso ainda não, porque está pautado pela conjuntura, pela busca de medidas para enfrentar a pandemia. É incrível como, no meio de uma pandemia, nós tenhamos que discutir uma crise política”. Enio Verri (PR), líder do PT.

Vice-líder do PSD, o deputado Fábio Trad (PSD-MS) vê a reação do Congresso contra os ataques à democracia como um imperativo moral.

“Divergências programáticas são superáveis com a rotina democrática, mas quando se levantam forças contra a própria democracia, nenhuma diferença poderá ser maior que a necessidade de convergir para salvar o regime constitucional das liberdades pública. Portanto, a criação da frente pela democracia é um imperativo moral neste momento em que a escuridão perdeu a vergonha de se mostrar”. Deputado Fábio Trad (PSD-MS), vice-líder do PSD.

Pensamento semelhante tem o deputado paranaense Rubens Bueno, uma das principais lideranças do Cidadania.

“Há vários grupos conversando e a frente vai ganhando força. Não é só grupo interno do Congresso, mas de outros segmentos sociedade. Temos um presidente que, desde que assumiu, provoca todos os dias”. Rubens Bueno (Cidadania-PR).