22 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Isolado, Bolsonaro desembarca na Itália como uma pária na Cúpula do G20

Brasil não é mais o protagonista, se distanciou de acordos com os Estados Unidos e está na contramão da questão ambiental

O presidente Jair Bolsonaro desembarca nesta sexta-feira (29), por volta das 7h30 no horário de Brasília (12h30 no horário local), em Roma, capital da Itália, onde participa no fim de semana da Cúpula de Líderes do G20, o grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo. 

O único compromisso do dia para Bolsonaro é uma audiência com o presidente da Itália, Sergio Mattarella, no Palácio do Quirinal. Na Itália, cujo sistema de governo é parlamentarista, o presidente é o chefe de Estado. Já a chefia de governo é exercida pelo primeiro-ministro, posto atualmente ocupado por Mario Draghi.

Nos bastidores, o Itamaraty tenta se apresentar como um interlocutor legítimo e num esforço de ser um país capaz de “criar pontes” entre diferentes grupos. Antes de sair do Brasil, a delegação brasileira esteve com embaixadores europeus para fazer passar essa mensagem. Antes, aprofundou negociações sobre questões climáticas com o governo de Joe Biden.

Diplomatas estrangeiros presentes no processo para se chegar a um acordo no G20 também indicaram que, nas últimas horas, não era o Brasil o país que estava causando obstáculos nas negociações em Roma.

Apesar disso, esses mesmos diplomatas admitem que, diante do comportamento e da gestão de Bolsonaro, o Brasil não é mais o protagonista. “Não estamos mais falando daquele Brasil que assumia a liderança”, admitiu um dos negociadores.

A comitiva presidencial é integrada pelos ministros Carlos França (Relações Exteriores) e Paulo Guedes (Economia). No sábado (30) e domingo (31), o presidente brasileiro participa das atividades do G20, onde deve ter outros encontros bilaterais com autoridades estrangeiras, além de reuniões internas.

O encontro dos principais líderes globais deve ter como temas centrais o enfrentamento à pandemia e a situação climática do planeta. Do lado brasileiro, estarão em pauta assuntos como saúde, tecnologia e meio ambiente, segundo informou o Palácio do Itamaraty.

Igreja

Após o encontro do G20, o cronograma de Bolsonaro na Itália inclui viagem até a província de Pádua, onde está prevista uma cerimônia de entrega do título de cidadão honorário do município de Anguillara Veneta, seguida de um almoço oferecido pela prefeita da cidade, Alessandra Buoso.

Ela é integrante do partido de direita italiano A Liga. Esta região também é tida como local de origem da família do presidente brasileiro, de onde seu bisavô paterno teria emigrado para o Brasil.

Mas, numa nota emitida, a diocese de Pádua deixa claro que os religiosos não estão dispostos a receber o brasileiro de maneira oficial. Se Bolsonaro quiser entrar na basílica, será na condição de um peregrino como qualquer outro. Para interlocutores locais, tanto o prefeito de Pádua, Sergio Giordano, como o bispo local Claudio Cipolla, deixaram claro que não pretendem receber oficialmente o presidente.

Já na terça-feira (2), o compromisso de Bolsonaro é na província de Pistoia, onde participará de um cerimônia em memória dos pracinhas brasileiros que lutaram pelas Forças Armadas brasileiras durante a Segunda Guerra Mundial. A cerimônia ocorrerá no Monumento Votivo Militar Brasileiro.

A previsão é que, depois deste compromisso, Bolsonaro retorne da Itália para o Brasil, onde deve chegar já na madrugada de quarta-feira (3).

G20

O G20 foi criado em 1999, em resposta às crises financeiras dos anos 1990. Foi concebido inicialmente como um fórum de diálogo econômico entre ministros de finanças e presidentes de bancos centrais.

Com a eclosão da crise financeira global de 2008, o nível de participação das autoridades foi elevado para chefes de estado e de governo e passou a incluir de maneira central as chancelarias e, gradualmente, outros ministérios setoriais, além do Ministério da Economia ou equivalente dos países integrantes.

Os membros permanentes são: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, Turquia e União Europeia.

Na questão ambiental, de fato, Roma servirá como uma espécie de termômetro para o que pode ocorrer em Glasgow, na Cúpula da ONU (COP26) a partir de domingo. Se não houver um acordo entre as 20 maiores economias do mundo, o temor é de que dificilmente um entendimento global poderá ser atingido. No G20 estão os países responsáveis por 80% de todas as emissões de gases do planeta.