20 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
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Justiçamento: criminosos não têm moral para impor sua lei deturpada

Por Wagner Melo, jornalista

No mês de setembro de 2015, o servente de pedreiro Aldecir Bezerra da Silva, de 38 anos, foi espancado até a morte, por populares, no bairro de Felipe Camarão, na Zona Oeste de Natal. O crime: ele era parecido com um estuprador. Ainda roubaram o dinheiro da feira dele.

Se antes havia um estuprador à solta, o ato de justiçamento aumentou a criminalidade, pois também produziu assassinos e ladrões. E um inocente morreu.

Um ano antes, no Guarujá, em São Paulo, a dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, foi morta por espancamento por populares que a acusaram de… bruxaria, após circulação de boatos numa página de rede social.
Duas pessoas inocentes mortas pelo “tribunal popular”, sem chance de defesa, injustiçadas, na verdade.

Em Alagoas, a situação é preocupante. Já são 39 casos registrados desde janeiro, segundo a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/AL). Seis pessoas morreram.

A preocupação é que os massacres de 2018 sejam maiores do que os de 2017, quando a OAB anotou 91 casos de justiçamentos em Alagoas, com 15 mortos.

Isso é alarmante, pois representa a vitória da barbárie diante da descrença nas instituições. O cidadão se sente na obrigação de fazer a justiça com as próprias mãos sem perceber que acaba contribuindo para tornar a sociedade mais violenta e insegura.

Apoiar o direito à defesa não é se posicionar em defesa dos bandidos, como relincham alguns “cidadãos de bem”. É evitar que o sangue de inocentes seja derramado por psicopatas sedentos de sangue e que a mão da “justiça” somente pese contra os pretos e pobres.