29 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Ministro da Saúde e Doria batem boca sobre prazo de 60 dias para aprovação de vacina

Imunizante da AstraZeneca/Universidade de Oxford receberá R$ 2 bi do governo, mas nada para a Coronavac/Butantan

O ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, afirmou em reunião virtual com governadores de estado que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) deve demorar 60 dias para aprovar o uso de qualquer vacina contra a Covid-19.

E encontro foi tenso. Pazuello bateu boca com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), sobre a falta de interesse do governo federal na Coronavac, o imunizante chinês que será formulado e também produzido pelo Instituto Butantan.

Doria e o Jair Bolsonaro duelam politicamente acerca do manejo da pandemia, minimizada pelo presidente, disputa que agora chegou à etapa “guerra da vacina”.

Pazuello não especificou se falava da análise para uso emergencial, que é restrito apenas a alguns grupos como profissionais de saúde, ou sobre o registro definitivo da vacina.

O ministro falava especificamente do imunizante da AstraZeneca/Universidade de Oxford, para o qual o governo federal aprovou um gasto de R$ 2 bilhões para a importação e produção local na Fiocruz.

60 dias

O ministro quis justificar o criticado prazo dado pelo governo para o início da campanha de inoculação, em março de 2021. Disse que os ensaios da fase 3 da vacina, que estão sendo refeitos devido a erro de dosagem na análise preliminar, devem estar concluídos até o fim deste mês.

“Aí a Anvisa, dentro de sua responsabilidade, vai precisar um tempo. Gira próximo a 60 dias”. General Eduardo Pazuello, ministro da Saúde.

Pressionado por Flávio Dino (PCdoB-MA), Pazuello afirmou que não irá deixar de estudar a compra da Coronavac. Mas ressaltou que “a Anvisa ainda aguarda o resultado da fase 3”.

“Fatos são outras coisas”, afirmou, confirmando a negociação de compra de mais 70 milhões de doses do imunizante da americana Pfizer, dos quais 8,5 milhões podem estar disponíveis no primeiro semestre.

Doria estima que os resultados da fase 3 estejam prontos até o dia 15. Em sua intervenção, o tucano questionou Pazuello se o governo federal favorecia as duas marcas ocidentais por uma questão política ou ideológica.

O general questionou a fala do tucano, que apontou o investimento federal em dois imunizantes que não têm aprovação da Anvisa ainda, assim como a Coronavac. “Não houve um centavo para o Butantan”, disse.

O ministro provocou Doria, que na véspera apresentara um plano de imunização com início de 25 de janeiro: “Tentar acelerar é justo, mas não podemos abrir mão de segurança e eficácia. Nós é que seremos responsabilizados por nossos atos”, afirmou.

Além disso, adendou: “Não é com o Butantan, é com todas as vacinas”. Houve réplica do tucano, e o general subiu o tom também. “Não sei por que o senhor diz tanto que ela é de São Paulo. Ela é do Butantan”.

Participam do encontro presencialmente os governadores Wellington Dias (PT-PI), Fátima Bezerra (PT-RN), Paulo Câmara (PSB-PE) e Gladson Cameli (PP-AC). Outros governadores acompanham o encontro por videoconferência.