Em entrevista concedida ao “Roda Viva” na TV Cultura, nesta segunda-feira (11), o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, confessou que não conhece a Amazônia nem mesmo sabe sobre o líder seringueiro Chico Mendes, uma das maiores referências mundiais da causa ambiental.
O apresentador, Ricardo Lessa, questionou o que Salles falava obre Mendes e teve isso como resposta:
“Eu não conheço o Chico Mendes, escuto histórias de todos os lados. Dos ambientalistas mais ligados à esquerda, que o enaltecem. E das pessoas do agro que dizem que ele não era isso que contam. Dizem que usava os seringueiros pra se beneficiar”. Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente.
Lessa rebateu: “Se beneficiar do que? Ele é reconhecido pela ONU”. O ministro, então, disparou: “O que importa quem é Chico Mendes agora?”.
Como se esperava de alguém indiciado por crimes ambientes e que atuará “sem ideologia”, o ministro seguiu defendendo licenciamentos mais ágeis e até auto-licenciamentos de empresas que vão atuar em áreas de preservação ambiental ou que suas atividades ofereçam riscos. Isso mesmo após ser lembrado de tragédias como Mariana e Brumadinho (MG).
O ministro ainda relativizou os critérios de multas às empresas que cometem crimes ambientais e ainda propôs um processo de “acordo negociado” com infratores, o que, na prática, seria uma espécie de anistia.
E ao falar sobre as barragens, Salles minimizou e afirmou que a resposta está sendo dada através da presença de autoridades nos locais das tragédias, mas não apresentou atitudes concretas para punir a empresa, indenizar as vítimas e evitar novos acidentes.
Assista a íntegra da entrevista.
Chico Mendes
Chico Mendes nasceu no dia 15 de dezembro de 1944 no seringal Porto Rico, próximo à fronteira do Acre com a Bolívia, em Xapuri, estado do Acre. Filho de seringueiro passou sua infância e juventude ao lado do pai cortando seringa.
Com 16 anos Chico aprendeu a ler, escrever e pensar com Euclides Fernandes Távora, refugiado político que morava próximo da colocação da sua família. Esse fato teve uma grande influência na sua vida. Quando começaram a ser formados os sindicatos no Acre, ele tinha consciência de que havia chegado a hora de mudar a realidade dos seringais.
Em 1983 Chico foi eleito presidente do STR de Xapuri e intensificou sua luta pelos direitos dos seringueiros, pela defesa da floresta e pela luta política contra a ditadura e pelos direitos dos trabalhadores.
Em 1985 Chico liderou a organização do primeiro Encontro Nacional dos Seringueiros.
Mais de 100 seringueiros criaram o Conselho Nacional dos Seringueiros como entidade representativa e elaboraram uma proposta original de reforma agrária: as Reservas Extrativistas.
Em 1987 ele lançou internacionalmente o documentário “Eu Quero Viver” onde mostrou a luta de Chico para proteger a floresta e os direitos dos trabalhadores.
Entre 1987 e 1988 Chico Mendes ganhou o Global 500, prêmio da ONU, na Inglaterra, e a Medalha de Meio Ambiente da Better World Society, nos Estados Unidos e deu entrevistas aos principais jornais do mundo. Jornalistas e pesquisadores o visitaram nos seringais e difundiram suas ideias pelo planeta.
Em 22 de dezembro de 1988, em uma emboscada nos fundos de sua casa, ele foi assinado a mando de Darly Alves, grileiro de terras com história de violência em vários lugares do Brasil.
A repercussão foi imediata no mundo inteiro. A indignação foi forte e se refletiu em seguida no Brasil. A imprensa brasileira, que até então ignorara a luta dos seringueiros e nunca abrira espaço para Chico Mendes, procurou recuperar o tempo perdido. A forte reação e pressão da opinião pública levaram à condenação dos criminosos em 1990, fato inédito na justiça rural no Brasil.