23 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

‘Moleque’, Bolsonaro precisa levar os tapas que ele mesmo pediu por causa das urnas eletrônicas

Adjetivos de ministros do Supremo ao presidente do Executivo catalisam crise democrática em país afligido por doença, inflação e corrupção sistêmica

Na live do dia 22 de julho, o presidente Jair Bolsonaro foi claro ao criticar a credibilidade do sistema eleitoral brasileiro. E se mostrando confiante em suas declarações, afirmou dar a cara a tapa se o voto impresso não for mais seguro.

“O Ministro [do STF e presidente do TSE, Luís Roberto Barroso] foi para dentro do Congresso Nacional se reunir com lideranças partidárias, dizendo que as urnas são plenamente confiáveis? Se são, dá um tapa na minha cara”. Jair Bolsonaro, presidente.

Em sua fala, o presidente criticava Barroso, que fora convidado pelo Congresso para dar o aval do atestado de segurança das urnas, que desde sua implementação no Brasil, garantiu eleições seguras e sem fraudes.

O próprio Bolsonaro deveria saber disso. Ele finge não ser político, mas desde 1988 foi eleito em nove diferentes eleições (uma como vereador, sete como deputado e uma como presidente) a a última vez que recebeu votos suspeitos foi em 1994, justamente a última com voto impresso.

Leia mais: Em 1994, Jornal do Brasil noticiava votos falsificados em favor de Jair Bolsonaro

O sistema eletrônico é usado desde 1996. Nas 5 eleições que ele e seus filhos disputaram desde então, nenhuma reclamação. Tudo limpo, todos eleitos.

Só que quando eleito presidente, em 2018, ele jurava de pé juntos que deveria ter sido eleito no primeiro turno. Da mesma forma que acredita, hoje, que venceria as eleições com facilidade, não fosse as inseguras urnas eletrônicas.

Em sua live mais recente, de forma constrangedora o presidente voltou a mentir. Prometendo provas contra o sistema eletrônico, falhou nesta único propósito. Ouvindo quem faz acupuntura em árvore, inventou muito e não provou nada.

Todos os partidos sérios questionaram a sanidade do presidente. Ministros do Supremo Tribunal Federal  chamaram, nos bastidores, de “patética” e de “absurda” a live. Também chamado de moleque por eles, Bolsonaro foi desmentido pelo TSE em tempo real.

No decorrer da transmissão, o tribunal utilizou a rede social Twitter para combater a óbvia desinformação do presidente, que continua no caminho do Brasil, ajudando a dividir e matar.

Vivendo uma realidade paralela, Bolsonaro acredita que a força das redes sociais é a mesma das ruas. Que seus fãs replicadores de perfis falsos e/ou bots possuem uma quantidade messiânica – ou impossível, como na contagem mentirosa de motos em suas “motociatas”. Só que apesar de fazerem mais barulho, eles são minoria.

E o que faz Bolsonaro é exatamente isso: gritar, falar impropérios, inventar factoides, desviar a atenção do que importa. Estamos em uma pandemia e o que eles e seus aliados mais priorizaram foram o fator econômico. Falharam miseravelmente: centenas de milhares morreram, a corrupção em seu governo perdeu o controle e a inflação tomou conta do país em praticamente todos os segmentos.

Como o voto impresso agora é sua cruzada, para ser reeleito e evitar sua prisão e a de familiares, Bolsonaro usa seus seguidores na absurda e desconcertantes insurgência pela mudança do sistema: ou é desse jeito, ou não tem eleição. Parabéns aos que conseguiram transformar o Brasil em uma Venezuela.