16 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Moro entrega 15 meses de conversa com Bolsonaro em depoimentos na PF que terminou em pizza

Depoimento deve ser encaminhado ao ministro Celso de Mello, do STF, relator do inquérito que apura as denúncias contra Bolsonaro

Demorou, mas acabou o depoimento do ex-ministro Sergio Moro na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba.

Durante oito horas, a oitiva se estendeu por tanto tempo que um intervalo precisou ser realizado no fim da tarde, após a chegada de pizzas. E à noite ocorreu mais uma pausa para lanche, com a retomada do depoimento em seguida.

O ex-ministro da Justiça preparou um dossiê com o histórico de 15 meses de conversas no Whatsapp para provar as denúncias de interferência de Jair Bolsonaro no comando da Polícia Federal.

Moro teria gravado em seu whatsapp áudios, conversas, links e imagens trocadas com Bolsonaro e organizou o acervo de forma voluntária para ser entregue durante seu depoimento, que acontece na sede da PF em Curitiba.

Ele detalhou as acusações contra o presidente Jair Bolsonaro, afirmou que o chefe do Executivo atuou mais de uma vez para tentar interferir no comando da corporação e solicitou acesso a informações das quais não poderia ter conhecimento, pois não era parte nos inquéritos investigados.

Augusto Aras, procurador-geral da República, que se irritou com a “traição”de Moro assumiu a defesa de Bolsonaro, escalou três procuradores para acompanhar a oitiva: João Paulo Lordelo Guimarães Tavares, Antonio Morimoto e Hebert Reis Mesquita.

O depoimento de Moro deve ser encaminhado ao ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator do inquérito que apura as denúncias feitas contra Jair Bolsonaro.

O conteúdo pode ser mantido sob sigilo se a PF entender que esse ato é necessário para preservar a investigação. Nos próximos dias, Celso de Mello deve determinar o cumprimento de diligências para recolher provas e informações para averiguar as denúncias.

Enquanto isso, do lado de fora, apoiadores de Moro e do presidente Bolsonaro bradavam um contra o outro.

Outro lado

No governo, o clima foi de apreensão ao longo de todo o dia. O presidente Jair Bolsonaro tentou demonstrar que não estava preocupado com assunto.

No entanto, ao longo de todo o dia conversou com aliados e com os filhos, para avaliar eventuais impactos das revelações. Interlocutores do Planalto informaram que o maior temor é de que ao longo dos últimos meses, Moro tenha registrado diversas conversas com o presidente, não só por mensagens de texto, mas também em áudios e vídeos.

Em apoio ao presidente, o filho e deputado Eduardo Bolsonaro (SP) afirmou que o ex-ministro “certamente tem motivações políticas” ao denunciar supostos atos ilícitos no governo.

“Fica bem claro que o Moro que combateu a criminalidade, o Moro que combateu a corrupção na Lava-Jato merece os nossos aplausos. O Moro político deixou a desejar”. Eduardo Bolsonaro, deputado filho do presidente.