22 de março de 2025Informação, independência e credibilidade
Expresso

Morre no Rio de Janeiro o cineasta alagoano Cacá Diegues

Cacá foi um dos mais talentosos diretores de cinema do País, premiado em diversos festivais internacionais

Foto: Reprodução redes sociais

O diretor de cinema, produtor e escritor da Academia Brasileira de Letras, o alagoano Cacá Diegues faleceu nesta sexta-feira aos 84 anos.

Ele foi um dos fundadores do movimento do cinema novo. O cineasta sofreu complicações de uma cirurgia na próstata. Ainda não há informações sobre velório e enterro.

Cacá Diegues nasceu em 19 de maio de 1940, em Maceió, Alagoas. Carlos José Fontes Diegues se mudou ainda pequeno com a família para o Rio de Janeiro, onde estudou Direito na PUC, antes de ser completamente tomado pelo cinema.

Com sua obra fez sucesso com os longa metragens “Xica da Silva”, com Zezé Motta, em que retorna ao tema da escravidão13 anos depois de “Ganga Zumba”. O filme foi visto por 3,2 milhões de espectadores no Brasil, segundo dados da Ancine. Na sequência, realiza “Chuvas de verão” (1978), com Jofre Soares e Míriam Pires, e “Bye Bye Brasil” (1980), com José Wilker, Betty Faria e Fábio Jr.. Com trilha sonora de Chico Buarque, o longa participou da mostra competitiva do Festival de Cannes.

Carreira

O cineasta também é conhecido por ser um dos jovens cineastas que entre as décadas de 50 e 60 iniciaram o movimento conhecido como Cinema Novo. Cacá se destacou ao levar para as telas obras icônicas da literatura nacional.

Mas, para além do seu reconhecimento como cineasta, o alagoano conquistou grande destaque no mundo acadêmico e literário. Desde 2019 ocupa a 7° cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL). No campo literário, a Imprensa Oficial Graciliano Ramos já teve a oportunidade de contar com trabalhos sobre o cineasta e com textos produzidos por ele.

Cacá Diegues levou diversos aspectos de Alagoas para seus trabalhos em forma de uma fundamental referência para a imaginação e criação artística. Em entrevista realizada em 2021, por exemplo, ele lembrou um acontecimento importante: a primeira vez que foi ao cinema foi no Centro de Maceió.

Ainda que a família morasse no Rio de Janeiro, a casa do pai dele se transformou em uma espécie de sucursal alagoana na capital carioca, sendo ponto de encontro e de conversa entre pesquisadores, escritores e tantas outras personalidades.

Bienal de Alagoas

Cacá Diegues participou da 10ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas, em 2023. Além de organizar e escrever o prefácio do livro “Cogumelos”, um dos sete livros que compõem a coleção de trabalhos do autor Breno Accioly publicada pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos, também debateu algumas obras entre os gigantes da literatura alagoana.

Isso porque a referência de Alagoas no trabalho do cineasta é uma constante presença. Um dos escritores que ele indica como um dos quatro melhores poetas da língua portuguesa é o alagoano Jorge de Lima, autor que inspirou sua obra e o filme “O Grande Circo Místico”, a partir da poesia homônima que aparece no livro A Túnica Inconsútil.

Em um acalorado debate sobre a obra do escritor alagoano Jorge de Lima, durante a Bienal, em 2023, Cacá Diegues ressaltou o caráter fundamental da poesia do escritor e o que ela representa. “Um homem extraordinário, não pode ser esquecido, é uma influência não só na literatura brasileira, mas no modo de ver o mundo”, comentou Cacá Diegues.

A conversa aconteceu com mais dois intelectuais, Antônio Torres e Marco Lucchesi, com mediação de Rostand Lanverly, presidente da Academia Alagoana de Letras. Em determinado momento, os três falaram sobre o que chamaram de atravessamentos na obra de Jorge Lima. “Tem muita coisa dele que ele reproduzia de outros poetas, de outros autores”, comentou Cacá Diegues, demonstrando seu profundo reconhecimento do trabalho do escritor alagoano.