24 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

MP-RJ: Queiroz recolheu R$ 2 milhões em rachadinha, 70% em dinheiro vivo

Ex-assessosr de Flávio Bolsonaro já foi policial militar e é amigo do presidente desde 1984

Fabrício Queiroz recolheu mais de R$ 2 milhões em um período de pouco mais de dez anos em um suposto esquema de “rachadinha” entre servidores da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) vinculados direta ou indiretamente ao ex-deputado Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), aponta o MP-RJ (Ministério Público do Rio).

Apontado como suposto operador do esquema, Queiroz foi preso ontem (19) ontem de manhã em Atibaia-SP.Ainda de acordo com o MP-RJ, 70% desse valor foi depositado na conta de Queiroz em dinheiro vivo. Ao menos 11 ex-assessores tinham relações de parentesco, amizade ou eram vizinhos do ex-assessor de Flávio Bolsonaro, hoje senador.

Os pagamentos, segundo a investigação, eram feitos próximos às datas de pagamentos dos servidores da Alerj entre abril de 2007 e 17 de dezembro de 2018.

O MP-RJ também identificou que 26,5% dos repasses foram feitos por transferências bancárias e outros 4,5% em cheque. As informações constam nos documentos judiciais que embasaram o decreto de prisão preventiva, assinado pelo juiz Flávio Itabaiana de Oliveira Nicolau, da 27ª Vara Criminal do Rio.

Com o afastamento do seu sigilo bancário, a investigação ainda detectou uma intensa rotina de saques na conta de Queiroz de cerca de R$ 3 milhões.

Somente Adriano Magalhães da Nóbrega, o Capitão Adriano, que era o chefe da milícia Escritório do Crime, transferiu mais de R$ 400 mil para as contas bancárias de Queiroz.

O Capitão Adriano foi morto em uma operação policial na Bahia em fevereiro deste ano. Pelo menos R$ 69,5 mil foram depositados nas contas bancárias de Queiroz por restaurantes administrados pelo miliciano e seus familiares.

Queiroz

Queiroz já foi policial militar e é amigo do presidente Bolsonaro desde 1984. Reformado na PM, trabalhou como motorista e assessor de Flávio, então deputado estadual pelo Rio.

Ele passou a ser investigado em 2018 após um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) indicar “movimentação financeira atípica” em sua conta bancária, no valor de R$ 1,2 milhão, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. Queiroz foi demitido por Flávio pouco antes de o escândalo vir à tona.

O último salário de Queiroz na Alerj foi de R$ 8.517, e ele teria recebido transferências em sua conta de sete servidores que passaram pelo gabinete de Flávio. As movimentações atípicas levaram à abertura de uma investigação pelo MP (Ministério Público) do Rio.

Primeira-Dama

Uma das transações envolve um cheque de R$ 24 mil depositado na conta da hoje primeira-dama, Michelle Bolsonaro. O presidente, na época, se limitou a dizer que o dinheiro era para ele, e não para a primeira-dama, e que se tratava da devolução de um empréstimo de R$ 40 mil que fizera a Queiroz.

Alegou não ter documentos para provar o suposto favor.Em entrevista ao SBT em 2019, Queiroz negou ser “laranja” de Flávio. Segundo ele, parte da movimentação atípica de dinheiro vinha de negócios com a compra e venda de automóveis.