A inflação no Brasil deve encerrar 2021 maior que a de 83% dos países, segundo um levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
Os dados utilizados pelo estudo do Ibre foram colhidos do último relatório “World Economic Outlook”, elaborado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e divulgado na semana passada e que alertou para os riscos da alta generalizada de preços.
Ou seja: o problema pode até ser global, mas aqui está pior, ao contrário do que vem jurando o ministro da Economia, Paulo Guedes. Ele tem afirmado que a alta da inflação é um fenômeno global, e que o Brasil não estaria fora do ‘padrão’.
“Países que tinham zero [de inflação], agora estão em 4%, 5%. Países que tinham 4%, 5%, agora estão em 8%, 9%. Isso acontece, mas tem de haver resposta política”. Paulo Guedes, ministro da Economia.
Os dados mostram, no entanto, que o patamar de inflação por aqui supera em muito o visto na maior parte do exterior. E, segundo o diretor do Banco Central Bruno Serra, está em um “nível muito elevado” até para o Brasil, acostumado com pressão sobre os preços.
A estimativa do FMI é a que a inflação brasileira encerre o ano em 7,9% – no acumulado de 12 meses até setembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou a 10,25%.
Se a projeção do fundo se confirmar, o Brasil vai registrar uma inflação bem acima da apurada entre os países emergentes (5,8%) e também da média mundial (4,8%).
Brasil é pior
O levantamento deixa evidente que a piora da inflação tem sido mais intensa no Brasil que no restante do mundo. No relatório de outubro do ano passado, por exemplo, a previsão era que a nossa economia teria uma inflação maior que a de 57% dos países. No relatório de abril, esse patamar subiu para 70%. E agora está em 83%.
“O que agrava a situação do Brasil é a nossa moeda, que segue desvalorizando mais do que a média das outras divisas”. André Braz, pesquisador do Ibre.
A previsão do FMI para a inflação brasileira pode ser considerada conservadora. No relatório Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central, os analistas consultados estimam um IPCA de 8,69% para 2021. Nesse cenário, a alta de preços no Brasil supera a de 86% das nações.
Desde o ano passado, a inflação brasileira passou a ser pressionada pela alta dos preços dos alimentos, resultado justamente da valorização das commodities.
Em tese, a alta das commodities deveria fazer com que o real se valorizasse em relação ao dólar, ajudando no combate à inflação. Isso porque o Brasil é um grande exportador de produtos básicos, como soja e milho.
Portanto, a entrada de dólares no país deveria fortalecer a moeda brasileira. Mas esse cenário não tem se confirmado: o real segue desvalorizado diante das incertezas nas áreas fiscal e política.
O Brasil ainda lida com uma forte alta dos preços dos combustíveis e da energia elétrica. Em agosto, o governo e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciaram a criação da bandeira tarifária “escassez hídrica”, a mais cara desde a criação do sistema de bandeiras, em 2015.
Além disso, com a inflação em dois dígitos, o Banco Central tem sido obrigado a subir a taxa básica de juros (Selic) para tentar conter a escalada dos preços.
Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a Selic subiu 1 ponto percentual e alcançou 6,25%. Os analistas avaliam que mais aumentos devem vir pela frente. No relatório Focus, a previsão é que os juros encerrem o ano a 8,25%.