Apostando todas as fichas no poder da chantagem, Eduardo Cunha foi fazer a própria defesa na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, contra o processo de cassação dele, e não titubeou. Reconheceu que na casa há mais de 100 corruptos iguais a ele e, assim sendo, deixou claro que todos têm de ser cassados.
E veio a celébre frase em tom de ameaça, sem choro e nem vela: – Hoje sou eu, amanhã são vocês.
Disse isso e não apareceu uma viva alma sequer para pedir respeito. O que prova que em matéria de corrupção eles estão no mesmo barco. Nunca foram santos e nem serão, jamais.

Até podem chorar, eventualmente, ou quando a conveniência mandar, como fez o próprio Cunha ao reunciar à presidência da Câmara, após um acordo talhado com o presidente interino da República. Michel Temer.
O choro, aliás, que se constituiu até em matéria prima para a análise de psicanalistas na imprensa nacional. Embora, o que a midia fez foi encher linguiça sobre uma personalidade que hoje o mundo inteiro sabe tratar-se, talvez, do mais ardiloso bandido político do País. Um homem que em defesa dos seus interesses vai além de pisar no pescoço da avó. Envolve mulher e filha no mundo da criminalidade.
Um exemplo real de cleptocrata dominador.
A propósito de tudo isso, o jurista Luiz Flávio Gomes foi quem bem descreveu no País o choro de Cunha quando escreveu:
-A renúncia a um cargo público nos países cleptocratas (como é o caso do Brasil) tem maior significado, porque não é apenas o fim do poder, sim, o fim de todas as possibilidades de enriquecimento que um cargo renomado oferece nesses países de corrupção sistêmica.
Não se trata tão-somente do dinheiro líquido vertido em acumulação de patrimônio guardado em contas secretas na Suíça (porque disso os empresários corruptores brasileiros também desfrutam).
Mais: nos países cleptocratas os cargos mais relevantes significam sultânicas mordomias, reconhecimento público (muita gente já tinha Cunha como o próximo presidente da República), bajulações, dezenas de funcionários à disposição, uso de aviões da FAB, mansões equivalentes aos castelos top do Vale de Loire, um orçamento público de bilhões para manobrar, força para coagir ou influenciar, poder de surrupiar e de chantagear e por aí vai.
Quem perde tudo isso da noite para o dia costuma mesmo chorar. E não se trata do choro da boa comunicação, que os políticos sabem fazer (Clinton, por exemplo; Obama, menos assiduamente). Não é isso. O choro é de dor, de derrota, de frustração e de fraqueza.
É o choro da perda do poder num país cleptocrata de corrupção sistêmica que permeia as elites econômicas assim como as oligarquias políticas dominantes. Um choro que pode simbolizar o fim da jesus.com. Com todos os seus carros, os mais requintados do mercado.
O cleptocrata não chora, evidentemente, pela pouca escolarização da população, pela falta de hospitais e de remédios, pela esquálida infraestrutura do país, pelo atraso dos salários, pela falta de segurança e de Justiça, pelo transporte indecente etc.
Não há sensibilidade para isso. O lado humano dos cleptocratas raramente nota faltas, ausências, carências, sofrimentos, dores, angústias, fome. Não é o seu mundo.