Por Iremar Marinho de Barros – Jornalista
Não é do “aparelhamento de imprensa” que trata Karl Marx, fundador do socialismo científico, nos textos recolhidos para o livro ”A Liberdade de Imprensa”, no qual se mostra o jornalista atuando em 1842, quando tinha pouco mais de 20 anos.
Movimenta-se Karl Marx no ambiente da censura a que eram submetidos os jornais prussianos, todos vigiados para que não tornassem simpáticas aos leitores as ideias socialistas que permeavam os estudos filosóficos de então, na Alemanha.
Marx, que viveu 65 anos, ainda iria enfeixar, em suas obras definitivas, as teorias monumentais da mais valia, a partir do aprofundamento nos estudos da obra de Adam Smith (“A Riqueza das Nações”), do qual tira a ideia do trabalho produtivo.
“Contribuição à Crítica da Economia Política”, “Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Clássica Alemã”, “Do Socialismo Utópico ao Socialismo Cientifico”, entre outras grandes obras do marxismo, apontam para o “Manifesto do Partido Comunista”, quando estava lançada a “bíblia” do Comunismo, retratando o desenvolvimento da burguesia em luta com o proletariado emergente.
O objetivo político, nesta fase, não é mais utópico, prevendo a queda da burguesia e a subida do proletariado, rumo à sociedade sem classes. Na “Crítica ao Programa de Gotha”, se estabelece: “Entre a sociedade capitalista e a sociedade comunista, há o período de transição política em que o Estado não poderá ser senão a ditadura revolucionária do proletariado”.
Curioso é o jovem Marx defendendo os livros, em vez dos jornais, porque naqueles estaria garantida a “minuciosidade” dos temas abordados, enquanto a imprensa estaria mais preocupada com “índices estatísticos”.
Sobre a Assembleia do Reno, com seus debates sobre a liberdade de imprensa, pontua Marx: “nos afetou intimamente”, e anuncia: “nos artigos seguintes relataremos e discutiremos o curso dos procedimentos mais como observadores históricos”.
O que surpreende, nas sequências de artigos do Marx jornalista, é a profundidade das ideias debatidas, revelando sua seriedade e detalhamento de cada ponto, como se já exercitasse a dialética perpassada dos gregos aos filósofos europeus.
Aqueles que anseiam por um Karl Marx alheio à marcha política que ocorre na Europa e nos Estados Unidos, vão encontrar o filósofo e o jornalista esquadrinhado já o saber conhecido e estabelecido, com a finalidade de estruturar a obra-fundamento “O Capital” e estudos complementares, para os quais encontrará Friedrich Engels.
“A origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado” não deixará espaço para contestação, dada a riqueza e a extensão das pesquisas documentais realizadas por Engels. Revela-se a doutrina marxista sendo construída como um monumento, com cada tijolo (e cimento) sendo encaixado no espaço exato que irá ocupar, definitivamente, apesar da desconstrução que se tentou, na Europa, após a Revolução Bolchevista de 1917, na Rússia.
Marx e Engels, além de editores do “Neue Rheinische Zeitung, não escaparam, – por sua “crítica de funcionários governamentais”, – de serem conduzidos ao banco dos réus, no Tribunal de Colônia, em 1849, “por ter publicado (o jornal) observações derrogatórias sobre funcionários do governo”.
No julgamento, Karl Marx, Friedrich Engels, o coeditor e o administrador do jornal foram inocentados pelo júri, após o longo discurso de defesa de Marx, em que discorre com a maestria do jurista, conhecedor profundo das leis, sobre as entranhas (e intrigas) políticas da Alemanha, no século 19.