Sexta-feira, 8 de outubro, é o dia dedicado ao nordestino. A gente nativa da região Nordeste brasileira, simbolizado na figura do sertanejo sofrido, vítima da seca e da fome.
Uma história conta em verso e prosa pelo professor Pife – Osvaldo Epifânio – em “Choro esturricado”:
Choro esturricado – a morte seca debaixo do pé
Por Osvaldo Epifanio – Pife
O chão encarquilhado
Amarrota a semente.
O açude de olho enxuto,
O carcará no céu ardente.
Cadê João?
Tô aqui, sem água neste chão.
Cadê Zefinha?
Tô aqui, com a mandioca sem farinha.
Cadê Joaquim?
Tô aqui, neste sofrimento sem fim.
Cadê Cardozinho?
Tô aqui, abandonado e sozinho.
Cadê Sebastiana?
Tô aqui, com aquele que me engana.
Cadê “Das Dor”?
Tô aqui, rezando pra “Nosso Sinhô”.
Cadê Jerome?
Tô aqui, sem dente e com fome.
Cadê Marieta?
Tô aqui, sem leite na teta.
Cadê Raimundo?
Tô aqui, a sete palmos embaixo do mundo.
Cadê Regina?
Tô aqui, chorando a minha sina.
Cadê Margarida?
Tô aqui, sem rumo, sem vida.
Cadê o Padre?
Tô aqui, abençoando a comadre.
Cadê Celestino?
Tô aqui, sem remédio pro menino.
Cadê Tomaz?
Tô aqui, indo na estrada e não volto mais.
Só não nasci morto.
Sou murcho e torto.
Estropiado pela água seca,
Teimei a natureza:
Comi palma
E vomitei fraqueza.
Cadê Pureza, Salvador, Vitória, Catarina,
Marquinha, Aparício, Marinalva e Carolina?
Cadê Justino, Quitéria, Beroaldo, Glorinha,
Pepeu, Zequinha, Benício e Rosinha?
Cadê Jeremias, Edna, Benjamim, Laurinha,
Gilda, Edleuza, Hermínio e Carminha?
Cadê Odete, Valdemar, José, Frascisquinho,
Jailda, Aurinha, Barnabé e Quinzinho?
Cadê Cacilda, Maria, Luiz, Betinho,
Zequinha, Pascoal, Renato e Toinho?
Cadê Manoelzinho e Jorginho,
Romeuzinho e Pedrinho?
De fome, seu moço, morreu tudinho!