25 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Cultura

O choro esturricado do professor Pife, em verso e prosa, no dia do nordestino

A homenagem ao nordestino, segundo o professor Pife, é pelo seu dia árido com a morte seca debaixo do pé

O nordestino e sertanejo de duras lutas, em todos os tempos, na aridez do seu penar

Sexta-feira, 8 de outubro, é o dia dedicado ao nordestino. A gente nativa da região Nordeste brasileira, simbolizado na figura do sertanejo sofrido, vítima da seca e da fome.

Uma história conta em verso e prosa pelo professor Pife – Osvaldo Epifânio – em “Choro esturricado”:

 Choro esturricado – a morte seca debaixo do pé

Por Osvaldo Epifanio – Pife

O chão encarquilhado
Amarrota a semente.
O açude de olho enxuto,
O carcará no céu ardente.

Cadê João?
Tô aqui, sem água neste chão.

Cadê Zefinha?
Tô aqui, com a mandioca sem farinha.

Cadê Joaquim?
Tô aqui, neste sofrimento sem fim.

Cadê Cardozinho?
Tô aqui, abandonado e sozinho.

Cadê Sebastiana?
Tô aqui, com aquele que me engana.

Cadê “Das Dor”?
Tô aqui, rezando pra “Nosso Sinhô”.

Cadê Jerome?
Tô aqui, sem dente e com fome.

Cadê Marieta?
Tô aqui, sem leite na teta.

Cadê Raimundo?
Tô aqui, a sete palmos embaixo do mundo.

Cadê Regina?
Tô aqui, chorando a minha sina.

Cadê Margarida?
Tô aqui, sem rumo, sem vida.

Cadê o Padre?
Tô aqui, abençoando a comadre.

Cadê Celestino?
Tô aqui, sem remédio pro menino.

Cadê Tomaz?
Tô aqui, indo na estrada e não volto mais.

Só não nasci morto.
Sou murcho e torto.

Estropiado pela água seca,
Teimei a natureza:
Comi palma
E vomitei fraqueza.

Cadê Pureza, Salvador, Vitória, Catarina,
Marquinha, Aparício, Marinalva e Carolina?

Cadê Justino, Quitéria, Beroaldo, Glorinha,
Pepeu, Zequinha, Benício e Rosinha?

Cadê Jeremias, Edna, Benjamim, Laurinha,
Gilda, Edleuza, Hermínio e Carminha?

Cadê Odete, Valdemar, José, Frascisquinho,
Jailda, Aurinha, Barnabé e Quinzinho?

Cadê Cacilda, Maria, Luiz, Betinho,
Zequinha, Pascoal, Renato e Toinho?

Cadê Manoelzinho e Jorginho,
Romeuzinho e Pedrinho?

De fome, seu moço, morreu tudinho!