O empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach , de 38 anos, que foi assassinado na sexta-feira, 8, no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, , havia entregue ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP) uma gravação de áudio onde duas pessoas discutiam o assassinato dele por R$ 3 milhões.
A gravação foi feita por Gritzbach em seu escritório e foi apresentada aos promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) após a homologação de um acordo de delação premiada, validado pela Justiça em 24 de abril deste ano.
Na ocasião da gravação, Vinícius estava acompanhado por um policial civil, que até então era seu amigo. O policial recebeu uma ligação de uma pessoa vinculada a acionistas de uma empresa de transporte coletivo de São Paulo, que estava sob investigação por suspeitas de envolvimento com o PCC. A empresa em questão foi alvo da operação Fim da Linha, desencadeada pelo MP-SP em abril de 2024.
Gravação
Durante a ligação, o policial colocou o celular em modo viva-voz para que Vinícius pudesse ouvir a conversa. Sem que os interlocutores soubessem, o empresário gravou o diálogo, no qual discutem valores.
Em determinado momento, a pessoa do outro lado da linha pergunta ao policial se “três está bom”. De acordo com as investigações, o empresário entendeu que o “três” se referia à quantia de R$ 3 milhões, sugerida como preço pela sua morte. A conversa segue, e o interlocutor pergunta ao policial se seria fácil resolver a situação ou se o alvo estava “voando”, ou seja, saindo de casa.
O policial responde afirmativamente, e menciona que Vinícius estaria acompanhado de seguranças. A conversa é interrompida em seguida. Após o término da ligação, o policial se vira para Vinícius e diz: “Você ouviu, você é meu irmão”. Ele então questiona o empresário sobre os motivos para a ameaça, completando: “Nós vamos pegar esse cara e dar umas pauladas nele.”
O policial orienta Vinícius a se preparar adequadamente para se defender nas investigações relacionadas ao processo no qual ele respondia pelo assassinato de dois homens — Anselmo Becheli Santa Fausta, o “Cara Preta”, e Antônio Corona Neto, o “Sem Sangue”.
Os homicídios ocorreram em 27 de dezembro de 2021, na Zona Leste de São Paulo, quando as vítimas foram mortas a tiros em plena luz do dia. O autor do crime, Noé Alves Schaum, foi assassinado em janeiro de 2022, com a cabeça decepada.
De acordo com o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Vinícius teria ordenado a morte de Cara Preta após receber R$ 40 milhões dessa vítima para um investimento em criptomoedas, mas acabou desviando o dinheiro, o que resultou no descobrimento do golpe e, posteriormente, nas ameaças de morte contra ele.
O policial que foi filmado na gravação feita por Vinícius acabou sendo preso em uma operação da Polícia Federal, em decorrência de outra investigação. Após a formalização da delação premiada por parte de Vinícius, as ameaças contra sua vida se intensificaram.
Além de fornecer o áudio contendo a ameaça de morte, o empresário também revelou ao Gaeco o envolvimento de policiais civis de diversas unidades, incluindo o DHPP, o Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) e o 24º DP (Ermelino Matarazzo), em práticas de corrupção e recebimento de propinas.
Portal IG