Pergunta que não quer calar: o que farão pescadores no Tabuleiro?

Porque não dão certo os processos de remoção de favelas construídas próximo do mar e da lagoa.
E agora: o que fazer?
E agora: o que fazer?

Não vou, aqui, falar dos erros e acertos que cercaram a operação de desocupação da favela Vila dos Pescadores, no bairro de Jaraguá, esta semana. E eles existiram. Mas não caberia essa análise ampla sem que corresse o risco de perder o fio da meada de uma outra abordagem, sobre a qual o poder público terá que se debruçar com prioridade, humanismo e responsabilidade social nos próximos dias e meses, como missão seguinte à ação de despejo, já que não pensou nisso antes.

Para onde irão as famílias removidas de lá?

Não falo do abrigo em creche, escola, galpão ou seja qual for o espaço onde eles foram colocados provisoriamente. Falo da situação definitiva, que envolve a moradia como referência de estabilidade, privacidade, rotina familiar, acesso ao trabalho e à escola.

Onde será a nova moradia dessas famílias?

E antes que alguém diga que alí tinha traficantes, bandidos, ladrões que se escondiam na Vila e de lá saíam para praticar assaltos, vender drogas, matar ou morrer eu me antecipo. Não é deles que estou falando, até porque, para estes, a moradia deve ser cadeia. Eu falo de cidadãos que alí nasceram, cresceram e constituíram família; de pais e mães que apesar da miséria e da pobreza, alí criavam seus filhos com zelo e amor; homens que madrugam, arrumam seus barcos e saem para o mar; mulheres que acordam com o raiar do sol, dão alguns passos até a praia e dalí tiram o alimento e a renda, limpando o pescado, costurando redes para a pescaria; homens e mulheres que trabalham duro, do nascer ao por do sol, e alí organizaram sua vida, ao redor da Vila, ao alcance das próprias pernas, sem depender do custo do transporte para trabalhar.

A resposta que o prefeito Rui Palmeira deu, esta semana, preocupa, porque repete um erro que muitos gestores já cometaram, e o retrato atual da orla lagunar, assim como a própria favelização no bairro de Jaraguá são respostas à nossa pergunta: O que vão fazer famílias que vivem da atividade pesqueira, na região do Tabuleiro?

Nada!

Lugar de pescador e marisqueira é perto do mar e da lagoa, onde trabalham e de onde tiram o sustento. Não adianta mandá-los pra longe, sem proporcionar-lhes alternativas de emprego e renda. Ppoucos gestores entenderam isso – e abro um parêntese para o ex-prefeito Cícero Almeida e o ex-governador Teotonio Vilela, que investiram em projetos habitacionais próximos a esse habitat.

Longe,  esses homens e mulheres acostumados ao cheiro da maresia vão ficar sem trabalho. Ou vão voltar, contruir seu barraco na beira da lagoa ou num cantinho da praia e abrir novos focos de favelização.

É assim que tem sido…

 

 

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