Por Oswaldo Pife*
Ninguém chega a tempo de percebê-la.
O mundo roda, roda, faz barulho e nos faz pensar que os dias são apenas tolices da idade.
Até mesmo a pele flácida não é capaz de injetar a grande ironia da vida: “falta pouco”.
De repente, estamos surdos para o entorno e de frente para o silêncio.
Como não temos poder de esticar o passado, o jeito mesmo é vibrar com o que temos no momento: a quietude.
A velhice se chama mocidade tardia.
De tão perversa que é a rapidez do tempo, não há quem escape dos minutos perdidos, como se fossem estalos-bebés numa fogueira de São João em dia de chuva fina renitente.
Se não há salvação para os estourinhos de um pavio curto, aceitar que o nosso tempo começou há pouco é salvar os dias da ruminante mania que os velhos têm de abandonarem o esquecimento.
Mesmo com o olhar de trivela, percebemos que o minuto vivido é uma força irrevogável do presente. E isso é mocidade, essa estranha decisão de não esticar o passado.
Ao contrário de Funes, O memorioso, personagem de Jorge Luis Borges, a capacidade de esquecer é a mais incrível virtude da liberdade humana. Ser moço é esquecer.
Não há mocidade sem as lembranças descartadas.
Mesmo que Funes demonstre a invejável capacidade de não se esquecer de nada, os registros de sua memória infalível levam-no às mazelas infernais de seu passado.
Sem querer caducar o texto, é possível que o segredo da velhice nunca seja encontrado, se é que exista algum. Melhor mesmo é esquecê-la.
Oswaldo Pife é professor, escritor, poeta e boêmio nas horas vagas