28 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Poético, Renan diz que Bolsonaro queimou a cara e que Lira será o próximo com prisão de ministro

Senador alagoano acredita que CPI deve provar ligação do presidente do Congresso com os repasses irregulares de kits de robótica em Alagoas

 

Com tom poético e irônico nas redes sociais, o senador alagoano Renan Calheiros (MDB) prevê que a prisão do ex-ministro Milton Ribeiro, acusado de corrupção na pasta para favorecer políticos evangélicos, vai provocar a CPI do MEC. E que vai atingir o rival Arthur Lira (PP-AL), presidente do Congresso.

Calheiros lembrou  que, quando o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi à ONU no ano passado, ele mentiu sobre o esquema de corrupção no Ministério da Saúde envolvendo a compra de imunizantes contra a covid-19.

O kit robótica e ônibus que Calheiros menciona são referentes aos repasses irregulares e superfaturamento em compras de transportes escolares, que ficou conhecido como Bolsolão, e dos kits entregues em escolas precárias, de municípios apoiados por Arthur Lira.

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Alagoas

Cada kit foi adquirido pelas prefeituras por R$ 14 mil, valor muito superior ao praticado no mercado e ao de produtos de ponta de nível internacional.

Somente a cidade de Canapi, 254 km distante de Maceió, recebeu R$ 5,4 milhões para a compra de 330 kits, ou mais de R$ 700 por aluno matriculado. A cidade tem 35 escolas, nenhuma com laboratório de ciências e mais da metade não conta com internet.

Em povoados, há escolas com pátio de chão batido, alunos de séries diferentes estudando na mesma sala e falta água encanada – é preciso usar um balde para dar a descarga dos banheiros.

Já em de Santana do Mundaú, os R$ 4,5 milhões recebidos pelo FNDE para a compra de robôs equivale a um gasto de R$ 1.473 por aluno. Mas os alunos não têm acesso a computadores, essencial para o uso dos robôs.

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A liberação dos recursos federais para a compra de kits de robótica foi rápida, com empenhos em dezembro e, nos outros, entre agosto e outubro. O dinheiro foi depositado para os municípios entre fevereiro e março.

O empenho é a primeira etapa da execução orçamentária e reserva o recurso para determinada ação. Há cidades que aguardam há mais de dois anos a liberação de recursos já empenhados: Aporá (BA), por exemplo, espera do FNDE desde fevereiro de 2020 parcela de R$ 7,9 milhões para finalizar uma obra de creche e pré-escola.

No Senado

O suplente de Renan Calheiros, senador Rafael Tenório, que assumiu este mês o mandato, manteve o apoio à CPI do MEC, embora seja um aliado de Jair Bolsonaro. Renan já havia assinado a lista antes de se licenciar, e havia dúvida se Tenório também assinaria, o que ocorreu na noite desta quarta-feira.

Embora Renan não afirme publicamente, pessoas próximas a ele vinham afirmando que, caso Tenório não assinasse, o experiente político retomaria o assento para ratificar o apoio à abertura da CPI. O senador Jorge Kajuru afirmou nesta quarta-feira já ter coletado as 27 assinaturas necessárias para apresentar o pedido de instalação da CPI.