20 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
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Por ideias que nos permitam ser canalhas

Por Thiago Eloi

“Eles escreveram letras de sangue no caminho que seguiam, e sua tolice ensinava que a verdade se prova com sangue. Mas o sangue é o pior testemunho da verdade; o sangue envenena até a doutrina mais pura transformando-a em ilusão e ódio do coração. E se alguém atravessa o fogo pela sua doutrina — o que isso prova?! Maior coisa, em verdade, é que da própria chama venha a própria doutrina.” (Friedrich Wilhelm Nietszche, 1895)

Se uma ideologia exige que você morra por ela, caso necessário, então é bem provável que esse conjunto de ideias esteja fundado em noções puramente irracionais. Penso nisso sempre que vejo soldados sendo enviados pra guerra. Convencer um jovem a matar e até morrer em nome de um ideal nacionalista — ou religioso, como é o caso do homem-bomba — me parece lavagem cerebral. Sinceramente, não consigo pensar em outro nome pra isso.

Eu sempre costumo dizer que a beleza do ateísmo é justamente a ausência desse culto ao martírio. Ninguém morre em nome do ateísmo. Patético isso. Se o Brasil virasse uma teocracia, por exemplo, e começasse a matar infiéis, eu seria o primeiro a mentir. Aliás, eu minto por muito menos. Eu mentiria meu ateísmo pra sair com uma mulher, imagina se não vou mentir pra salvar minha vida.

E se você repudia ações de homens-bomba que matam pessoas inocentes apenas por pensarem ou agirem de forma diferente, acredite: pra muitos eles são heróis que vão direto para o céu ao cometer tal ato. O que acreditamos, portanto, é de enorme importância prática. Crenças irracionais sobre fatos sociais nos levam a ações que, nos casos mais extremos, colocariam nossa própria sobrevivência em risco.

Por essas e outras que não vejo caminho pro mundo que não seja através de ideias seculares e humanistas. A conta sai cara demais quando não somos guiados pela razão.