Sempre damos valor a coisas que são importantes em nossas vidas: filhos, família, amigos, emprego e outras coisitas a mais (não necessariamente nessa ordem), que tornam a nossa vida mais feliz. Mais a importância dada ao futebol, neste momento que vivemos, não está em meus conceitos de necessidades básicas, e olha que eu gosto de um bom jogo, principalmente quando estão em campo os meus times do coração.
Estamos em agosto, e eu pergunto em que mudaria o mundo se este ano não tivesse o Brasileirão – que está mais para o Codivão-2020. (Abro um parêntese para estender essa reflexão a outros campeonatos, inclusive os estaduais que já foram retomados e encerrados, e outras modalidades esportivas). Estamos diante de uma pandemia, ainda em seu processo de matança extremamente ativo, com a marca de mais de 105 mil mortes no Brasil.
Reconheço, e é incontestável a situação difícil vivida pelos clubes, com a queda vertiginosa de receita. Assim como reconhheço ser importante que os campeonatos aconteçam, movimentem os times; que entre dinheiro para sustentar o esporte mais popular do planeta e que tem seu papel na geração de emprego e renda. Mas estamos num momento atípico e a vida dos jogadores, árbitros, técnicos, auxiliares e todos que movimentam uma partida de futebol está em risco – dentro e fora de campo, porque eles viajam de um estado para outro, compartilham transporte, hospedagem e se misturam numa disputa. Colocam, literalmente, a vida em jogo. Dá para imaginar a cabeça desses profissionais, seus familiares, diante do dilema de entrar em campo numa partida, sabendo que podem sair contaminados por uma doença que mata?
Existem críticas de todos os gostos – muitas vindas de jogadores, em forma de desabafo nas redes sociais – quanto ao protocolo da CBF. Não é seguro. O momento não é seguro. Mesmo sem torcida, sem abraço nas comemorações, futebol é corpo a corpo na disputa pela bola. Esse contato é inevitável.
Temos dezenas de atletas infectados, e o campeonato começou há uma semana. Um levantamento do Globo Esporte apontou mais de 150 testes positivos de Covid, entre equipes que disputam o Brasileirão. E o problema afeta todas as séries do campeonato, até mesmo a série D, que ainda nem começou. Há um surto, sim! E se não afeta todos os times ainda, alguns estão em situação crítica. O exemplo está aqui, no CSA. Jogou a primeira rodada da série B com o dilema de 9 atletas infectados. A CBF foi avisada um dia antes, mas se recursou a adiar a partida contra o Guarani, levando todos a compartilharem, em campo, o risco de contaminação. Os números mais que dobraram nesses sete dias. Agora são 20; cerca de 80% do elenco azulino está com Covid.
Em maior ou menor dimensão, o vírus está por todo lado. Na série A, o Goiás teve 10 jogadores confirmados, antes da partida contra o São Paulo, domingo passado. Mas o jogo só foi adiado em cima da hora, já com os jogadores em campo. E por decisão do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Na série C, o Imperatriz (MA) viajou à Paraíba com 12 jogadores com Covid, para enfrentar o Treze, na primeira rodada do campeonato. Viagem longa e cheia de escalas como é a maoria, num campeonato que roda o país inteiro. A partida foi suspensa pouco antes do horário marcado.
Os testes estão acontecendo, fazem parte do protocolo da CBF, mas não conseguem evitar toda essa exposição. A grande tragédia é que, para cúpula da Federação, as infecções estão dentro de uma “previsão natural”. Que previsão é essa que se sabe de um desastre e não se tenta evitá-lo? Seria mesmo prudente manter o calendário num momento como este? Pensem bem: Se vários times saíram dos seus regionais e entraram no Brasileirão-20, iniciado dia 8 de agosto, e já na primeira rodada apareceram dezenas de casos de coronavírus, imagine o que se pode esperar dos próximo testes.
Em tempo: O famoso rachinha dos peladeiros na praia está proibido por risco de contaminação! Mas a CBF prefere ir testando ajustes do Protocolo que já se mostrou falho, enquanto os jogadores testam positivo para a Covid-19.
Podem chamar do que quiser, até mesmo de necessidade de sobrevivência; pra mim, isso é irresponsabilidade com a vida.
Vidas que estão, literalmente, em jogo!
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