Um deputado federal de esquerda, eleito para um terceiro mandato, com 24.295 votos , desiste de assumir seu mandato por conta de ameaças e o presidente do país comemora, sem reservas, na rede social: “Grande dia”. Incrível. Jean Wyllys (PSOL-RJ) tem mesmo que sair correndo daqui. O que o Estado brasileiro, pelo que se infere da fala do seu atual representante
máximo, escancara para o mundo?
Em desabafo encaminhado à imprensa, o presidente Partido dos Trabalhadores (PT), em Maceió, Marcelo Nascimento, um dos primeiros articuladores da luta LGBT+ no estado demonstrou sua solidariedade ao Wyllys.
“Já fui ameaçado e objeto de um plano de assassinato por milícias ligadas a PM e a PC de Alagoas na década de 90 em razão da minha atuação na defesa dos direitos humanos de LGBT e do caso Renildo.
Vivi com escolta policial por três meses. Inclusive fui alvo de uma campanha internacional promovida pela Anistia Internacional pedindo proteção a minha vida. Não me sinto confortável nem orgulhoso de expor essa situação aqui no grupo nem pra ninguém. Tenho clareza que não sou o único quadro de esquerda e dos movimentos sociais a sofrer tal perseguição.
Porém, confesso que a minha situação é bem diferente do deputado federal Jean Willys. A situação do Rio de Janeiro é preocupante, principalmente depois do assassinato de Marielle e das suspeitas de ligação de seus algozes com o Planalto Central. Respeito e solidariedade ao companheiro Jean Willys é o mínimo que se espera das pessoas comprometidas com a democracia e os direitos humanos.
A situação é grave e requer unidade dos setores progressistas e democráticos. A perseguição e criminalização dos movimentos sociais e partidos de esquerda está em andamento”, afirma Nascimento.
Enfim, Willys se vai, e, certamente, deve dar continuidade ao seu ativismo, agora, no exílio. Que a voz dele ecoe no cenário internacional , pois a situação dos que ficam aqui, sobretudo das pessoas ligadas às comunidades LGBTs é de total vulnerabilidade. Em Alagoas, então, o quadro é preocupante, por se tratar do estado onde é mais perigoso não ser heterossexual.
Basta lembrar o caso do vereador, por Coqueiro Seco, Renildo José dos Santos, de 29 anos (citado no desabafo de Nascimento), homossexual assumido, que anunciou aos quatro ventos as ameaças de morte recebidas e tombou, após sucessivas ameaças, em 10 de março de 1993.
Só para deixar claro, as historias de Renildo, Marcelo, Jean e Marielle têm em comum muito mais que batalhas pessoais contra a homofobia. Não se trata aqui, evidentemente, de mitificar ninguém, mas de reconhecê-los pela coragem de denunciar injustiças, de toda a ordem, e, assim, qualificar a luta por direitos humanos universais.