29 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
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Se não foi cúmplice, foi feito de idiota: Bolsonaro não deveria seguir com Decotelli no MEC

Indicado para o Ministério da Educação acumula mentiras no currículo e já teve sua posse adiada

“E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. A passagem na Bíblia preferida de Jair Bolsonaro, João 8:32, é sempre citada pelo presidente e seus apoiadores. A dica é: apesar de todas as denúncias de fake news e corrupção, Bolsonaro e seu entorno são honestos no que falam e fazem. A verdade trilha seu caminho de retidão.

Logo, partindo dessa premissa simples, o presidente precisa de forma imediata se livrar do nome de Carlos Decotelli para o MEC.

Claro, é muito fácil chegar para o presidente e dizer que um de seus ministros (ou indicado para) precisa sair, ainda mais depois da batalha que foi para se manter o antecessor, Abraham Weintraub, que se auto-exilou nos EUA.

Há outros nomes que sempre têm suas cabeças pedidas. Ricardo Sales (Exterior) e Ernesto Araújo (Meio-Ambiente) são fáceis de lembrar: um odeia tudo o que é de fora, menos os EUA. O outro odeia o verde.

Damares Alves (Direitos Humanos) pela falta de tato com sua pasta, Marcelo Álvaro (Turismo) por causa das laranjas ou Augusto Heleno (GSI) pela crise com o STF e por ter complicado o presidente na PF também estão entre os mais lembrados.

Só que Decotelli, substituto do então inimigo número 1, Weintraub, é um caso a parte: ele fez Bolsonaro de idiota. Esta é a única explicação para o caso de alguém que entrega um currículo falso para o presidente da República. Como achar que isso daria certo sem que percebessem?

Indicado pelos militares para contrapor a ala ideológica-olavista na Educação, Decotelli chegou com um currículo pomposo. Que Bolsonaro fez questão de resumir em anúncio no seu Twitter. E sendo o primeiro negro entre os ministros também fez levantar aquela máxima: se tem negro por perto, não pode ser racista.

O tweet até pode ser deletado, mas o print é eterno

Mas Decotelli ainda não assumiu. E seu currículo vem sendo esmiuçado e desconstruído por universidades. Primeiro a argentina, que disse que ele não tem doutorado, pois não defendeu sua tese. Depois a alemã, que disse que ele não tem pós-doc. Claro, se nem mesmo tem doutorado.

Além disso, há denúncias sobre sua tese de mestrado conter plágios de outros trabalhos. Até mesmo a FGV negou que ela tenha sido professor efetivo. Se a coisa continuar assim, o que mais vão descobrir? Que ele não cumpriu carga horária na faculdade e não é bacharel em ciências econômicas? Ou que nem mesmo cumpriu o ensino médio?

Partindo da premissa de que Bolsonaro não mente, pois ele sempre usa a palavra da bíblia para negar isso, a única conclusão é a de que mentiram para ele. Decotelli mentiu em seu currículo, enganou os militares e fez o presidente de idiota.

O embaraço já adiou a data da posse do novo ministro, que seria hoje (30). Mas Bolsonaro já faz questão de defendê-lo. Sem abandonar soldados, admite ‘inadequações’ em currículo, mas diz que Decotelli tem “capacidade” para ser ministro.

Pois bem: se o Executivo Federal não usou os recursos que tem em sua assessoria, milhares ou milhões investidos em dinheiro público, para que os melhores e mais capacitados nomes tenham seus currículos checados contra inadequações, e Decotelli acabou escapando, a situação acabou caindo no colo do presidente.

Que precisa tomar uma decisão importante sobre o futuro do MEC. Antes de tudo: o novo ministro da Educação não pode ter sua base curricular manchada com mentiras. É um péssimo presságio. Segundo: Bolsonaro precisa estar ciente de que mantendo Decotelli ou mentiu ou foi feito de idiota.

Ainda há tempo para corrigir isso. O pior de tudo? Os olavistas agradecem. E após a indicação falha dos militares, a ala ideológica do governo emplacará mais um nome no MEC.