25 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Site de fake news perde mais de 900 anunciantes, mas governo mantem apoio do Banco do Brasil

Carlos Bolsonaro é considerado pela PF articulador em esquema criminoso de fake news e lutou pelo patrocínio; Área técnica do Banco do Brasil, da qual faz parte o filho do general Mourão, considerou excessivo o veto ao site

Em atividade há três dias no Twitter e com quase 140 mil seguidores, a conta “Sleeping Giants Brasil” conseguiu retirar dezenas de grandes anunciantes de um site alvo de processos judiciais por publicação de notícias falsas e da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) criada no Congresso para investigar o assunto.

O “Jornal da Cidade Online”, alvo da campanha na rede social, contou com 903 anunciantes em pouco mais de um ano por meio da plataforma de mídia programática do Google. Por causa disso, o site chegou a pedir ajuda à Secom do presidente e recebeu apoio do filho vereador, Carlos Bolsonaro (leia mais no final da matéria).

Vale lembrar, em inquérito sigiloso conduzido pelo STF (Supremo Tribunal Federal), a PF identificou Carlos Bolsonaro como um dos articuladores do esquema criminoso de fake news.

Até mesmo os ‘colaboradores’ do site, como “Otto Dantas” ou “Amanda Acosta” não existem. São nomes faltos e as fotos são montagens usando banco de dados do Shutterstock

O serviço de mídia programática proporciona aos anunciantes a compra de espaços publicitários de acordo com dados de públicos-alvo. As páginas e sites que recebem os anúncios automáticos são pagos por visualizações e cliques na propaganda exibida.

Em seu mundinho de mentiras, em contrapartida o site afirmou que Dell, PicPay, Telecine, Submarino, estão “perdendo clientes de maneira avassaladora”. E ilustraram a matéria com 10 prints, de pessoas dizendo que não iriam mais comprar nessas empresas. Pura fake news. E que gente como a deputada Carla Zambelli ajudou a compartilhar.

Alagoas, Brasil e praticamente todo mundo: não há um local livre de fake news, termo que floreia o conceito de pós-verdade: a informação com mentira.

Este é um universo complexo, que se aproveita da falta de atenção do indivíduo ou sua necessidade de topar com um “fato” mais fácil de aceitar. Mas ainda assim, é possível categorizar em pelo menos três grupos os tipos de pessoas que praticam este ato criminoso:

  1. Fazem pela anarquia: Há quem goste de causar caos ao espalhar mentiras. E estes devem ter um certo prazer em ver muita gente caindo na lorotas que criam. Sejam elaboradas ou não.
  2. Fazem pelo dinheiro: Há uma indústria por trás disse. E inventar história acaba atraindo números valoroso para sites de cunho duvidoso, que espalham fake news e ganham muito dinheiro com as visitas.
  3. Fazem pelo poder: Grupos organizados fazem isso pra desestabilizar a política e tenho algum ganho. Ou mesmo destruir reputações. Nessa, temos agentes públicos no meio, como no Gabinete do Ódio bolsonarista.

E é exatamente quando se reúne aqueles que buscam poder e dinheiro que a indústria das fake news prolifera. Acusações graves, fatos destorcidos, invenções de leis, camuflagem de números, uso de imagens de outro países ou datas para ilustrar algo atual e local.

Banco do Brasil vs Bolsonaro e Jornal da Cidade Online

O Banco do Brasil (BB) também informou suspender seus anúncios do site acusado de compartilhar notícias falsas, após uma campanha promovida pelo movimento recém-criado com o objetivo justamente de impedir a publicidade em sites considerados por eles “racistas ou de fake news”.

Na terça-feira, o Sleeping Giants cobrou o Banco do Brasil por anunciar no “Jornal da Cidade Online”, dizendo que ele é “um site conhecido por espalhar Fake News”.

Nesta quarta-feira, o Banco do Brasil respondeu à publicação no Twitter dizendo que “os anúncios de comunicação automática foram retirados e o referido site bloqueado”. O banco acrescentou repudiar “qualquer disseminação de Fake News”.

Como resposta, o veículo a matéria com chamado ao boicote das empresas que deixarem de anunciar nas páginas criticadas pelo Sleeping Giants.

E o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) saiu em defesa do “Jornal da Cidade Online”, afirmando que o Banco do Brasil “pisoteia em mídia alternativa que traz verdades omitidas”.

Já o chefe da Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência, Fabio Wajngarten, criticou o Sleeping Giants, dizendo que o perfil “precisa urgentemente deixar o viés ideológico de lado na hora de fazer suas supostas denúncias”. Depois, cobrado por uma pessoa que citou o caso, Wajngarten afirmou estar “contornando a situação”, sem entrar em detalhes.

Ou seja: o secretário de Comunicação do presidente sugeriu no Twitter que o governo está revendo a decisão do Banco do Brasil de parar de anunciar em um site condenado na Justiça pela difusão de fake news.

Após reclamação de Carlos Bolsonaro, o Banco do Brasil já decidiu voltar atrás e restabelecer a publicidade em site acusado de produzir fake news. O Banco do Brasil informou que restabeleceu a verba na quarta (20) mesmo.

A área técnica, da qual faz parte o filho do general Mourão, Antônio Mourão, considerou excessivo o veto ao site por produção de conteúdo falso.O presidente do banco, Rubem Novaes, defendeu o desbloqueio.

A área técnica do Banco do Brasil, da qual faz parte o filho do general Mourão, Antônio Mourão, considerou excessivo o veto ao site

Sleeping Giants

O Sleeping Giants Brasil é um perfil no Twitter, criado na última segunda-feira, inspirado em uma página de mesmo nome que existe desde 2016 nos Estados Unidos.

“Visamos impedir que sites preconceituosos ou de Fake News monetizem através da publicidade. Muitas empresas não sabem que isso acontece, é hora de informá-las”, diz a descrição do perfil, que tem 25 mil seguidores. Não há uma identificação sobre os responsáveis pela página.

Também não ficou explicado se vai focar sua campanha apenas em sites de fake news de direita e extrema-direita ou vai estender a iniciativa para endereços que adotam a mesma prática, só que em oposição ao governo Bolsonaro, como já cobram algum apoiadores dele na internet.