28 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Mundo

Gravação flagra Trump pressionando governador da Georgia a “encontrar votos”

Áudios divulgados pelo The Washington Post são evidência suficiente para um impeachment

O presidente Donald Trump tentou pressionar o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger a “encontrar” votos a seu favor e reverter a vitória de Joe Biden no estado.

E o crime, flagrado em áudio, foi considerado mais grave do que o caso Watergate, na avaliação de Carl Bernstein. Segundo o jornalista, os áudios divulgados pelo The Washington Post são evidência “suficiente” para um impeachment.

O Watergate foi um escândalo político ocorrido nos anos 1970 e revelado pelo próprio Bernstein e Bob Woodward, ambos repórteres do The Washington Post à época.

O episódio resultou na renúncia do então presidente Richard Nixon, do Partido Republicano, o mesmo de Trump, e marcou a história política dos Estados Unidos, tendo sido retratado até nos cinemas, em “Todos os Homens do Presidente” (1976).

“Isso não é um déjà-vu, é algo muito pior do que o que aconteceu no Watergate. Essa gravação evidencia o que esse presidente está disposto a fazer para enfraquecer o sistema eleitoral. Ilegalmente, inapropriadamente e imoralmente, ele tenta incitar um golpe para continuar como presidente dos EUA”. Carl Bernstein.

O jornalista ainda definiu Trump como um presidente “criminoso” e “subversivo”, e cobrou ações dos membros do Partido Republicano contra o presidente. Ele lembrou que os “heróis” do Watergate foram justamente os republicanos que “não toleraram a conduta de Richard Nixon”.

Gravações

Assim como o Watergate, a revelação de que Trump pressionou Raffensperger para tentar reverter o resultado da eleição na Geórgia também foi feita pelo The Washington Post. O jornal obteve a gravação de uma conversa telefônica entre os dois, em que é possível ouvir o presidente insistindo para que o secretário “encontrasse” mais votos favoráveis a ele.

Veja a transcrição:

Parte 1

Donald Trump: Nós ganhamos essa eleição na Geórgia, baseado nisso tudo. E não há nada de errado em dizer isso, Brad. Sabe? Quero dizer, ter o [resultado] correto… A população da Geórgia está irritada. Esses números vão ser divulgados na noite de segunda-feira [04/01], junto com outros que teremos a essa altura, que são ainda mais substanciais. A população da Geórgia está irritada, a população do país está irritada. E não há nada de errado em dizer isso, sabe? Que você recalculou [os votos].

Brad Raffensperger: Bem, senhor presidente, seu desafio é o fato de que os dados que você tem estão errados.

Trump: Agora, você acha que é possível que eles tenham rasgado cédulas no Condado de Fulton? Porque esse é o boato. E também que a Dominion recolheu urnas, que a Dominion está agindo rápido para se livrar de, uh, suas urnas. Você sabe alguma coisa sobre isso? Porque é ilegal, certo?

Aqui, Trump se refere à empresa Dominion Voting Systems, especializada em tecnologia eleitoral, que vende softwares e hardwares para votação eletrônica, incluindo urnas. Durante a apuração, o presidente dizia, sem apresentar provas, que a companhia teria adulterado cédulas e urnas.

Ryan Germany, conselheiro-geral do secretário de Estado da Geórgia: Aqui é Ryan Germany. Não, a Dominion não recolheu nenhuma urna do Condado de Fulton.

Trump: Mas eles retiraram partes internas das urnas e as substituíram por outras partes?

Germany: Não.

Trump: Você tem certeza, Ryan?

Germany: Tenho certeza.

Parte 2

Donald Trump: Você deveria querer ter uma eleição precisa. E você é um republicano.

Brad Raffensperger: Nós acreditamos que realmente tivemos uma eleição precisa.

Trump: Não, não, vocês não acreditam. Não, não, vocês não acreditam. Vocês não têm. Vocês não têm nem algo próximo disso. Vocês estão errados por centenas de milhares de votos.

Parte 3

Donald Trump: Você sabe o que eles fizeram e você não está denunciando. Isso é crime, isso é um crime, e você não pode deixar que isso aconteça. É um risco grande para você, para Ryan, para o seu advogado, é um risco grande. Mas eles estão rasgando cédulas, na minha opinião, baseado no que ouvi. E eles estão recolhendo urnas, estão recolhendo urnas o mais rápido que conseguem, e ambos são crimes. Você não pode deixar que isso aconteça, mas você está deixando que aconteça. Sabe? Quero dizer, estou te avisando que você está deixando que isso aconteça. Então veja: tudo o que quero fazer é isso, eu só quero encontrar 11.780 votos, um a mais do que temos [de diferença para Biden], porque nós vencemos no estado.

Parte 4

Donald Trump: Então diga-me, Brad, o que nós vamos fazer? Nós ganhamos a eleição e não é justo tirá-la de nós assim. Vai ser muito custoso, de diversas maneiras diferentes, e eu acho que você tem que dizer que você vai reexaminar, e você pode reexaminar, mas reexamine com pessoas que queiram encontrar respostas, não pessoas que não querem encontrar respostas. Por exemplo, estou sabendo que Ryan provavelmente… Tenho certeza que ele é um bom advogado e tudo mais, mas ele está fazendo declarações sobre o que ele não sabe. Mas ele está fazendo [essas declarações] com tanta… Ele realmente faz com segurança. Mas agora acho que ele tem menos certeza, porque a resposta é: todos eles [os votos] foram para Biden. E isso, por si só, nos faz ganhar a eleição com muita vantagem.

Brad Raffensperger: Senhor presidente, você tem as pessoas que te enviam informações, nós temos as nossas pessoas que nos enviam informações. E aí elas são levadas à Corte, e a Corte deve tomar uma decisão. Nós temos que defender nossos números, nós acreditamos que nossos números estão corretos.

Parte 5

Donald Trump: Bem, pela lei, você não pode divulgar resultados falsos das eleições, ok? Você não pode fazer isso. E é isso que você fez. Esse é um resultado falso. E honestamente, isso deveria se resolver muito rápido, você tem uma eleição importante chegando, e por causa do que você fez contra o presidente… Sabe, a população da Geórgia sabe que isso foi um golpe, e por causa do que você fez contra o presidente, muitas pessoas não vão sair para votar, e muitos republicanos vão votar contra, porque eles odiaram o que você fez contra o presidente.
Ok? Eles odiaram. E eles vão votar [contra]. Você seria muito respeitado, realmente respeitado, se esse negócio pudesse ser consertado antes da eleição. Você tem uma eleição importante chegando na terça-feira [05/01].