Por Tiago Di Lucas*
Recentemente, Mark Zuckerberg voltou aos holofotes ao se render à desinformação elemento cativo das redes sociais. Após ameaças feitas por Donald Trump, o dono da Meta resolve alterar das dinâmicas de checagem de fatos do Instagram e do Facebook, mesmo depois de criticar publicamente a posição de Trump em relação ao ataque ao Capitólio e uma infinidade de alegações falsas sobre as eleições de 2020. O papel de plataformas como Facebook e Instagram na propagação de desinformação é um tema espinhoso, mas que precisa ser escancarado – especialmente em um mundo onde os algoritmos já parecem priorizar as fake news em vez da verdade.
Aqui no Brasil, mirando as eleições de 2026, já é possível antecipar um cenário em que deepfakes, teorias da conspiração e mensagens inflamadas vão inundar o WhatsApp, o Instagram, o Facebook e o X. Afinal, não será uma grande surpresa em se deparar com algum vídeo de um “especialista” duvidoso alertando sobre “ameaças” à família ou “fraudes” inexistentes.
Esse ciclo de desinformação não é apenas uma brincadeira de mau gosto: ele molda opiniões, reforça preconceitos e alimenta divisões profundas. Zuckerberg e sua turma – incluindo Elon Musk com seu novo papel no comando do X (antigo Twitter) – estão no centro desse debate. Sob a suposta defesa intransigente da liberdade de expressão, essas plataformas continuam operando como megafones para discursos polarizadores e, muitas vezes, odiosos. E aí está o problema: liberdade sem responsabilidade vira caos.
No Brasil, sabemos como essas dinâmicas podem ser devastadoras. Não há quem não perceba as últimas eleições recheadas de fake news que influenciam narrativas, transformam candidatos em heróis ou vilões e até mesmo contribuíram para a radicalização de parte da população. Esse cenário ainda não mudou. Vivemos com os avanços inquestionáveis da tecnologia da comunicação, mas com narrativas medievais. Hoje, com a popularização de ferramentas de inteligência artificial, a produção de conteúdo falso se tornou ainda mais sofisticada e convincente. Imagine o impacto disso nas mãos de políticos mal-intencionados ou de grupos interessados em manipular as massas.
O mais preocupante é que as plataformas deixaram apenas de serem indiferentes, o que já não era ao bom, para agora se tornarem fiadoras do problema. Não há mais promessas de melhorias na moderação de conteúdo e combate às fake news, a sensação que fica é de que o lucro segue acima de qualquer preocupação ética. Afinal, o ódio engaja. E engajamento significa mais cliques, mais anúncios, mais dinheiro.
A pergunta que fica é: como podemos nos preparar para esse tsunami de desinformação? A tarefa, no caso do Brasil, de regular as redes sociais, ou continuaremos reféns de um modelo que transforma medos em capital político.
Por ora, o alerta está dado: se nada mudar, as próximas eleições – aqui e em outros lugares do mundo – serão mais uma chance de fragilizar povos nas trincheiras digitais. E os “arquitetos do caos” estarão coordenando a linha de frente, disseminando o ódio e o medo que comprometem democracias.
*Tiago de Lucas é jornalista