A Turma do Gabiru, formada nas mesas do bar do Gabi, anda mais que curiosa para saber o futuro do Pastor, depois que ele criou a Igreja do Araçá dos Nossos Dias, em uma cidade da região norte da terra alagoana.
“O pastor endoideceu e está morando no interior. Passa horas ajoelhado orando para pé de pau em mata ciliar”. Disse o velho Tonelada na roda de amigos, mas também reconhecendo que o negócio do novo religioso neopentecostal tem ido de vento em popa.
-O negócio dele está tão bom que até emprestou dinheiro para aquele Purê Azedo passar mais de um mês na Europa. – Disparou o Batoré.
Em conversa com Paulo Moto Serra, Carneirão da Zabumba, Cobra Coral, Promoter Corregedor e o Considerado, Tonelada falou para turma que o Pastor tem um amigo comerciante no interior que lhe cedeu uma casa no fim de uma rua do principal bordel da cidade e lá ele ergueu o templo, com o argumento de que iria atrair as almas penadas e as ovelhas desgarradas para a sua igreja.
Ao entrar na conversa o Considerado revelou que o Pastor e o empreito OS (Orçamento Secreto) já estão em tratativas para formar uma parceria empreendedora. -E o que é isso Considerado? -Quis saber o Carneirão? -Olhe até onde eu fiquei sabendo, o OS e ele se juntaram para construir um condomínio, nas proximidades da mata do lugar. Serão construídas casas de veraneio para a classe média – Disse.
-E quem vai bancar essa história é alguma emenda secreta? – Questionou o Corregedor. -Não sei, mas que a igreja está dando muito dinheiro, isso tá. -Reagiu o Tonelada.
A mágica para render tanto é que o Pastor, segundo o Considerado, inventou o Araçá Ungido para curar todos os males e ainda garantir a vaga de cada um no reino dos céus. Nas últimas semanas, de acordo com o Considerado, ele conseguiu vender 300 balaios de Araçá. -Na feira, Considerado? Perguntou Moto Serra. – Não, ota, no templo!
-Agora fiquei curioso: Como é isso mesmo? Reagiu o Corregedor.
-É o seguinte: ele pega os araçás, um por um, coloca em um saquinho, engana a boa fé do povo e vende a R$ 30 reais cada caroço da frutinha.
-E como é que ele engana essa gente?
-Ele coloca seis moças bonitas circulando a igreja e mostrando aos “fiéis” o saquinho do “Araçá Ungido”, enquanto faz sua pregação.
-E o que diz?
-Irmãos e irmãs abençoadas… O reino dos céus nos espera. Mas, antes temos que cumprir nossa missão aqui terra, em nome do senhor… Em nome da glória, em nome da paz…
-Eu não conhecia esse lado dele. Parece talentoso para a enganação.
-E segue: Vocês têm aqui a disposição o segredo da cura abençoada, o ingresso para o reino sagrado e o melhor estimulante para o amor. Estão aí os saquinhos com as nossas irmãs. Peguem agora o “Araçá Ungido”, que vai mudar as suas vidas, definitivamente. Oh glória, senhor! Não é nada, não é nada: Só R$ 30 para a sua salvação. Se não tiver em espécie pode passar o Pix.
-E o povo acredita?
-Ele já tem uma turma, que ele paga por fora, para dar depoimentos emocionados, chorando aos gritos, todos organizados pelo Lulu Traíra, amigo dele de vários carnavais. Alguns fingem desmaio e retornam, após ele colocar as mãos sobre a cabeça de cada um. Depois, orientados por Traíra dizem que, no desmaio, tiveram um encontro com o homem lá de cima em uma fazenda de Araçá.
-Minha nossa senhora, cabra da peste.
-Aí começa a venda. Em quatro semanas foram 300 balaios. Em cada balaio 200 Araçás, a R$ 30,00. O faturamento de um mês foi de R$ 1,8 milhão.
-Puta que pariu. Agora quero ser sócio dessa igreja…
-Calma, Correge, não é assim não. Ele não quer nenhum conhecido dele por perto. Eu tentei ser o tesoureiro, mas ele me expulsou.
-E o OS não é parceiro?
-É. Mas esse descobriu o caminho para multiplicar “os pães”…
-Aí então é uma mão lavando outra.
-Nesse caso, lava muito mais… Até os pés, irmão. E ainda cantam aleluia, aleluia.