28 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
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Até quando viveremos na iminência de sermos a próxima vítima?

Perdemos o Sandro! Essa foi a primeira informação que vi, hoje cedo, ao abrir os grupos de jornalistas no Whatsapp. Tinha pegado o celular exatamente na intenção de mandar uma mensagem no número dele, na tentativa que alguém respondesse e me desse notícias sobre seu estado de saúde.

Sabia que era grave, mas o Sandro era jovem – 42 anos – e as notícias de ontem nos traziam uma pitada de esperança, com o indicativo de uma pequena melhora. Não foi o suficiente para que ele escapasse dessa mórbida estatística que hoje aponta 300 mil vidas perdidas no Brasil, vítimas dessa doença traiçoeira, impiedosa, que antes de matar, relega suas vítimas ao sofrimento solitário, tirando-lhes, em vida, o ar; o aconchego de um abraço, de um carinho; o direito de estar perto das pessoas queridas na hora mais difícil, quando se luta entre a vida e a morte.

Sandro Oliveira morreu na madrugada desta quinta-feira (25), no Hospital da Mulher, onde estava internado desde a última segunda-feira, já transferido de outra unidade, devido ao agravamento do quadro.

Calmo, inteligente, engajado, solidário, Sandro era uma presença serena e competente na redação da Gazeta de Alagoas, onde convivemos por cerca de 10 anos – eu, na reportagem; ele na diagramação. Vez por outra, compartilhávamos a madrugada, em minhas passagens pela edição; engatávamos uma prosa nos intervalos do cafezinho; partilhávamos uma torta em alguma comemoração da redação; dávamos risada, quando era possível sorrir; ou confidenciávamos preocupações sobre o futuro da empresa; da nossa profissão. Sandro não era da linha de frente nas lutas da categoria, mas não era de fugir da raia, quando o embate era necessário. Tinha consciência de classe e fazia uso dela.

Diagramador dos bons, conquistou alguns prêmios com o desenho criativo das páginas da Gazeta, onde acomodava com arte e precisão matemática as reportagens que trazíamos da rua, em textos e fotos de acontecimentos que seriam notícia no jornal do dia seguinte.

Muito triste com sua morte. Mais triste ainda com esse avanço desenfreado dos números da Covid-19, que hoje somam – em um ano – mais de 300 mil mortes no Brasil; vítimas do descaso de um governo genocida que desde o começo tratou com deboche e desrespeito o avanço dessa “gripezinha”; que faz pouco caso da dor de milhares de famílias enlutadas; que desacata as medidas preventivas de uso de máscaras e distanciamento social; que desdenhou da ciência e emperrou a corrida para garantir a compra de vacina, enquanto em outros países, os governantes davam a largada para assegurar a imunização de suas populações.

Até quandi viveremos na iminência de sermos a próxima vítima? Até quando vamos ficar expostos ao vírus mortal, esperando a vacina chegar a conta-gotas? Quantos de nós ainda terão que morrer, que chorar seus mortos, que lotar hospitais?

Sandro não se enquadrava nos chamados grupos de riscos. E são tantos, que a palavra “prioridade” se perde de sua essência. Estamos todos expostos, com a vida em perigo. E todos precisando da vacina pra sobreviver a esse caos. Diante do quadro que vivemos, faço meu um comentário de minha amiga jornalista Niviane Rodrigues, que também conviveu com Sandro na redação da Gazeta: “Hoje, pra ser grupo de risco, basta viver no Brasil”.

Vacina para todos, é o que precisamos!

Que Deus nos acuda, e que onde estiver, nosso amigo Sandro consiga respirar a paz que todos estamos a necessitar.