8 de outubro de 2024Informação, independência e credibilidade
Justiça

Catadores dos flexais denunciam à Defensoria prejuízos nas atividades por causa da Braskem

Categoria denunciou prejuízo de 70% na renda adquirida através da reciclagem; Catadores informam que mineradora também quer acabar com ferro velho usado por todos há mais de 15 anos

Uma comissão formada por catadores de material reciclável e moradores dos Flexais se reuniu, na semana passada, com o Coordenador do Núcleo de Proteção Coletiva da Defensoria Pública do Estado de Alagoas, o Defensor Público Ricardo Melro, para relatar os estragos causados pela Braskem no trabalho de reciclagem. Eles reclamam do prejuízo em até 70% de suas rendas e de que a mineradora está atuando para fechar com o ferro velho velho usado pela categoria há anos.

Para o Defensor Público, a Braskem continua fazendo novas vítimas. “Desta feita, vítimas de forma dupla: (1) a empresa que retirá-los do espaço que usam há uns 15 anos como ferro velho e (2) perderam cerca de 70% de suas rendas por causa da expulsão da população das áreas vizinhas. O relato é de cortar os corações das pessoas normais (que não são psicopatas). Essa classe de trabalhadores não pode ser desprezada pela Braskem e precisa de indenização”, informou Melro.

Relato

Residente no Flexal há mais de 37 anos, José Wellington da Silva Santos contou que seu meio de subsistência sempre foi o material reciclável. Segundo ele, que possui um ferro velho no bairro há 15 anos, passou a perder material de reciclagem após as mudanças no bairro geradas pela mineradora Braskem. “Nos últimos quatro anos, venho sentindo os danos causados pela Braskem. Como os moradores saíram da região, meu trabalho foi afetado, pois o material vinha dos próprios moradores.  Minha renda chegava a R$ 1.300 e, atualmente, não passa dos R$ 600”, explicou.

De acordo com o José Wellington, anteriormente, o trabalho era feito com os próprios moradores da região, exercendo de porta em porta. “Hoje não é mais possível fazer. Preciso ir todos os dias para lugares diversos em Maceió, com muito esforço, suor, sacrífico e aperto, para conseguir me manter e manter a minha família. Porque não é fácil, preciso trabalhar mais horas por dia, tendo que sair de casa por volta das 5h horas da manhã e retornando por volta das 16h diariamente”, disse o morador.

O trabalhador recorda que a relação com os demais moradores ultrapassava a simples doação de material reciclável, pois ele também recebia alimentos, cestas básicas, dinheiro, bem como doações de roupas e sapatos para família. “Já me acidentei durante o trabalho, precisando ser hospitalizado.  Já fui diagnosticado com câncer e os médicos vêm investigando as dores crônicas que sinto na coluna e no joelho. E essas dores só aumentam por conta do deslocamento, a pé, que, por necessidade, preciso fazer por diversos bairros todos os dias. Porque o meu maior medo é sair de casa e não conseguir retornar com alimento para a minha esposa e a minha filha menor”, desabafou.

Indenização

José Wellington explica que, há dois anos, representantes da Braskem passaram pelo bairro identificando os imóveis e alegando que iriam indenizar a população. “Recebemos o valor de R$ 25 mil. Mas, a quantia jamais conseguirá cobrir todo dano causado pela empresa, pois, até hoje, mesmo recebido o valor, continuo sentindo na pele o dano que segue sendo causado”, informou

Ele explica que não possui condições financeiras para se mudar do local e refazer sua vida e que  não tem outra saída a não ser permanecer no local e aguardar, mesmo sem nenhuma esperança. “Quero muito sair do bairro para um lugar que eu possa viver dignamente junto com a minha família e que a indenização seja paga da forma justa e honesta, pois são anos vivendo e sobrevivendo no referido bairro e, ainda assim, nada conseguirá pagar anos de trabalho digno”, pontuou.

Para o vizinho de José Wellington, o comerciante senhor Valdemir Alves dos Santos, a atitude da Braskem com todos os catadores de recicláveis é desumana, descabida e muito injusta, pois sabe do trabalho duro que desenvolvem. “Toda comunidade vem sendo pressionada por parte da empresa Diagonal, que afirma que a obra de revitalização será executada independentemente da vontade dos moradores. A comunidade, em sua larga maioria, não está em consenso quanto a execução da referida obra e que não acham justo, pois preferem a realocação com indenização justa. Porque entendem que a revitalização é a oportunidade que a Braskem tem de maquiar a magnitude do problema e se esquivar da responsabilidade de indenizar e realocar os moradores. O direito de escolha dos moradores está sendo suprimido. Na região, há várias situações semelhantes e que suportam todo esse descaso com a região”, disse o comerciante, que teve seu negócio levado à falência após o Ilhamento social causado pelo trabalho da Braskem.